• Carta aberta a todos os caras que  quebraram o coração dela
  • Carta aberta a todos os caras que


    quebraram o coração dela


    Vocês não fazem ideia do que fizeram com ela, fazem? Ela tem receio de tudo que envolve amor. Ela diz sempre num script enrolado que não quer ir ao cinema porque não confia nas mãos dadas, na pipoca doce ou salgada, que não adianta muito insistir porque isso foi criado dentro dela e não vai se dissipar da noite pro dia.

    Veja bem, ela anda com olhos baixos e sente sempre frio. Envolve os braços em torno de si mesma num abraço e nem me deixa chegar perto. Talvez seja receio, talvez seja medo de não sentir mais frio e me ver partir logo depois. Partir o coração dela como vocês fizeram.

    Eu não sei dos motivos, nem sei das histórias, mas ela carrega um pouco de vocês em cada nova paisagem que a gente visita. Eu tento muito, juro que tento, prometo carinho e cuidado e digo que vou devagar porque ela vale a vista, ela vale o tempo, ela vale todo o tormento e vocês não perceberam isso. Vocês talvez tenham ido embora numa quarta de tarde ou numa segunda de manhã sem aviso prévio de partida. E ela, hoje em dia, é acostumada a despedidas.

    Vocês talvez não saibam, mas eu não teria desperdiçado a chance. De levá-la ao cinema e encostar as mãos nas dela. De dividir o brownie com sorvete de morango e dizer que não combina, mas tudo cai bem com ela por perto. De planejar uma viagem surpresa e entregar as passagens no aeroporto com os olhos vendados. De reparar nas coisas que ela diz e não tem medo, das coisas que não diz também e do que os olhos dela tentam falar. Vocês puderam e agora ninguém mais pode, mesmo com calma e corpo, mesmo com alma é pouco, ela tá fechada – e não é pra balanço. Parece ser pra sempre ou até amanhã, só ela quem sabe as mágoas que guarda e ninguém pode reclamar. Vocês também se sentiriam acuados se tivessem sido tão machucados assim.

    Todo mundo guarda umas memórias difíceis e umas marcas invisíveis na pele. Ela não é a primeira, mas talvez seja a primeira pessoa com quem me importo de verdade. E eu queria vê-la bem, assim como queria que todas as outras pessoas de coração fechado também pudessem escancará-lo sem medo de sair na rua, sem precisar de armadura. Por ela eu destruiria os muros que vocês criaram, mas eles são altos demais, não consigo escalar. E esse é o maior medo de quem ama alguém na vida: que a pessoa chegue tão machucada, tão desacreditada em tudo, que não consiga estar com a gente. Porque mesmo com tanto carinho e cuidado, às vezes não dá, às vezes demora muito e todo mundo tem um tempo diferente pra baixar a guarda. Ela não parece querer baixar a dela e eu entendo. Entendo porque faria o mesmo no lugar dela.

    E não há nada que eu possa fazer agora a não ser insistir.

    Uma hora, um dia desses, ela acorda e percebe que eu não sou vocês. Que eu não sou um desses caras que quebrou o coração dela de alguma forma. Uma hora ela entende isso – talvez ela já entenda, mas o coração dela ainda não. Enquanto isso eu fico aqu e tento, dia após dia, com chuva e com vento, com rima ou poesia. Tento e não paro de tentar porque sei que ela está ferida e toda ferida um dia cicatriza. Eu fico como vocês não ficaram. Fico mesmo que não seja comigo, que seja com o próximo que tentar. Porque, ao contrário de vocês, eu quero ser o cara que vai ajudar a reparar o coração dela até que ela não tenha mais receio de amar.

    ass-dani


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