Você não sabe o que é o amor. Você é uma pessoa egoísta, mesquinha e as suas vontades estão mais do que em primeiro lugar, suas vontades são tudo o que existe. Você não é apenas o ator/atriz principal da sua vida, você é o único personagem de um monólogo interminável cujo tema é você mesmo. A única coisa que você sabe compartilhar é o seu sucesso e a única coisa que você divide é a conta do bar, calculando com a sua avareza, quem deve cada centavo. Mas esse é você por dentro. Por fora você é uma pessoa linda, charmosa e capaz de atrair qualquer um só com um olhar. Foi assim que aquela pessoa se apaixonou por você. Você não sabe amar, mas se apaixona. Não por alguém, mas por uma situação. No início você se envolve com a situação, mas como tudo para você é um jogo, logo seu interesse se dilui e você descarta o outro como um papel amassado de um bombom que você devorou de uma vez só, mas cujo gosto você nem se lembra mais.
Sua vida segue sem interrupções, mas a daquela pessoa, desde que você a descartou, permanece em eterna suspensão. Ela espera sua volta, espera você chegar de joelhos pedindo perdão, para vocês continuarem de onde pararam aquele relacionamento que você prometeu que terminaria em felizes para sempre. E assim ela permanece, esperando seu retorno e sem se dar conta de que nesse tempo todo quem está de joelhos é ela própria.
De vez em quando sua noite não sai como o planejado e você a chama e ela vai, como aquele jogador que passou os quarenta e cinco minutos no banco dos reservas esperando sua vez de jogar. Nenhuma madrugada é tarde demais para ela, nenhum lugar onde você está é inalcançável. Ela sempre aparece minutos depois de você mandar aquela mensagem. Em sua defesa, eu admito que essa moça/rapaz é um tonto e a essa altura já não deveria mais cair na sua conversa. Mas isso não te dá o direito de tratar como gato e sapato alguém cujo único defeito é ter se apaixonado por uma pessoa de alma tão pequena como você.
Você sabe o efeito que tem sobre ela e se aproveita disso. Você segura a vida dela nas mãos e brinca com isso, ocupando espaço em seu coração com a sua presença vazia. E quando você percebe o mínimo movimento da parte dela para tentar ir embora da sua vida, você a chama de volta. Não é que você esteja confuso entre essa pessoa e todas as outras que já passaram pela sua vida. Não existe confusão nenhuma e você sabe exatamente o que está fazendo. Está usando-a de papel de rascunho enquanto espera sentir algo de verdade por alguém, para então, finalmente, dispensá-la, cheia de rabiscos e borrões , amassada e acabada.
Existem muitas pessoas por aí que esperam a oportunidade de amá-la, mas você a fez cega para todos ao seu redor. Você a afogou nas ondas do carisma que você usa para esconder o seu lado mais sombrio. Ela tem a capacidade de quebrar esse feitiço sozinha se ela quiser, mas você, que poderia ter o empurrão inicial, prefere mantê-la cativa do amor que ela sente por você, para o caso de um dia você se sentir sozinho.
Você precisa deixá-la partir, precisa dizer que não a ama e não vai amar nunca. Que não importa quantas madrugadas vocês passem juntos, amor não nasce da persistência. O tempo de vocês já expirou. Mesmo nas noites mais solitárias, nas madrugadas mais frias, você precisa parar de usar essa pessoa como preenchimento da sua personalidade oca. Deixá-la partir é o mais próximo que você pode chegar de retribuir todo o amor que essa pessoa te dedicou.