Se você não tem motivo para enlouquecer, é porque não procurou direito. Releia aquele e-mail aparentemente inocente e tente interpretar aquela piscadinha no final. Se era amiga mesmo, por que não um sorriso? Verifique o Whatsapp. Esqueça a caixa de mensagens, falo dos números bloqueados. O telefone de lá coincide com aquela ligação que ele jurou que era engano? Confira então as mensagens do telefone. Se encontrou uma pasta vazia pode ter certeza: tem alguma coisa muito errada.
O provérbio estava certo: quem procura sempre encontra. Mas já aviso logo: muito raramente é uma traição. É mais provável que seja uma razão pra se incomodar, para perder um sono, pra brigar à toa. Quem procura direitinho vê significado onde não existe e usa o amor como desculpa para matar a privacidade. Quem procura fica ali, desconfiada, se escondendo no banheiro pra fuçar o telefone, torcendo pelo dia em que ele esqueça o Facebook aberto com o login conectado. Quem procura nunca descansa. Fica na espreita, naquela ilusão de controle, na esperança de um dia poder dizer “tentaram me enganar, mas eu descobri”.
Na obsessão de comprovar histórias mal contadas, a gente enlouquece por besteira e subestima o dano. Confundimos esperteza com insegurança e nem percebemos a hipocrisia de julgar conversas que não são nossas. Esquecemos que nossos papos entre amigas também seriam censuráveis e nos achamos no direito de analisar tendenciosamente frases fora de contexto. Parece que precisamos de prova para poder ir embora, quando a desconfiança por si só já seria um bom motivo.
Eu, que me orgulhava tanto das minhas táticas, hoje eu vejo o quanto eu perdi meu tempo. O que segue agora não é um conselho: é um alerta que eu daria pra mim mesma uns anos atrás. Antes de abrir qualquer coisa que não seja sua, cogite descobrir algo que você não possa perdoar. E depois terá que perder, mesmo com todo amor do mundo. Cogite descobrir algo que o outro se arrepende, e passar a vida inteira remoendo um erro que serviu de lição. Saiba que toda frase ambígua pode virar um tormento e tenha bem claro pra si que esse tipo de atitude já é, indiscutivelmente, uma agressão.
Olha que contraditório: pelo medo de ser traída, viramos alguém em que não se pode confiar. Deixamos o papel de cúmplice para o da investigação. Rompe-se a amizade, instaura-se um inquérito repetitivo, desgastante e desnecessário. Poupe quem você gosta e a sua felicidade. Se você não tem um motivo pra enlouquecer, aproveite sua paz. Em vez de fuçar no banheiro, volte pro quentinho da sua cama. Desista de uma vez por todas da certeza absoluta. Se existem segredos escondidos, não cave um túnel até eles. Contente-se com a sua fé, com a sua intuição e conforme-se com aquela perspectiva terrivelmente verdadeira que a gente faz questão de ignorar: não somos inocentes. Somos humanos.