Faz algum tempo que eu não ouvia essa frase terrível, mas ela reapareceu no meio de uma conversa telefônica. Pergunto a uma amiga como vai o namoro dela e vem a resposta, despreocupada: “Acabou. Ele é fofo, mas não rola.” Não perguntei detalhes, e ela não ofereceu, mas, na minha cabeça, formou-se, nitidamente, a imagem de um jovem sorridente, com cara de bobo, sendo ignorado por minha amiga entediada. Um fofo, mas não rola.
É por causa de julgamentos como esse que muitos homens acham que é bom agir mal com as mulheres. Elas não gostam dos caras doces, dizem. Quanto mais legal você for, mais você se ferra. Não adianta ser gentil e amoroso, porque não é isso que elas procuram. A cultura do vestiário masculino ensina que mulher gosta de homem que a trate mal, ou, pelo menos, que a deixe confusa e expectante. Um cara atencioso e dedicado, que exiba sentimentos por ela, é um fofo. Mas com ele não rola.
O que vocês acham dessa conversa? Eu acho um mar de equívocos, de lado a lado.
Primeiro, acho que as mulheres confundem homem fofo com homem bundão e indeciso, sem opinião e sem atitude. Mas fofo, tal como eu entendo, não é isso. Fofo é o cara que prepara o café da manhã, que telefona para dizer que adorou a noite, que compra entradas para o show que a namorada gosta com um mês de antecedência. O fofo faz comidinhas, escreve poesia, chora na parte triste do filme. Mesmo quando discorda de você, quando você fez algo de que ele não gosta, ele tenta ser gentil ao explicar o problema. O fofo não gosta de briga — nem com você, nem com o garçom, nem com o cara que fechou o carro dele. Ele é afável de temperamento, um cara doce, talvez um pouco carente. Mas não é um bundão.
Bundão é o cara que mal consegue cuidar de si mesmo, e por isso trata as mulheres da vida dele como se fossem a segunda mãe. Os bundões não propõem nada, porque esperam que alguém tenha ideias e iniciativa por eles. Eles não têm opinião, não assumem responsabilidade e não fazem planos para hoje à noite, nem para o fim de ano, nem para o resto da década. Pensar e tomar iniciativa exige demais deles. Como se sente fraco, sem muito que oferecer, o bundão vive com ar de quem pede desculpas — pelo pau que não subiu, pelo fim de semana que foi chato, pela falta de grana, de ideias, de empolgação e de atitude. As gentilezas, no caso dele, sempre parecem exageradas, porque são tentativas de compensar suas insuficiências. O bundão pode ser fofo de vez em quando, mas não é isso que o define.
Minha impressão é que homens e mulheres confundem esses dois personagens inconfundíveis.
Os homens não querem parecer bundões, mas tomam atitudes que evitam que pareçam fofos. Agem de forma rude em relação às mulheres, escondem seus sentimentos, não praticam as pequenas gentilezas que fazem tão bem ao relacionamento. Tentam parecer desapegados em relação a elas, porque acham que demonstrar carinho os enfraquece. Mas isso tudo é uma bobagem, não?
O cara pode ser atencioso com a mulher e cobri-la de pequenos cuidados e gentilezas. Elas gostam. Pode tratá-la com carinho, dentro e fora da cama. Elas curtem. Não há nada de errado em se mostrar sensível nos filmes, nas conversas, nas situações emocionais. As mulheres adoram essas fofuras. Elas não diminuem a pegada de ninguém. O que não querem é um sujeito inseguro, indeciso, que pareça precisar dela para cuidar e decidir tudo. As mulheres detestam a sensação de que são mães dos homens com que se deitam. Elas não toleram bundões, mas curtem fofos — embora, às vezes, também costumem confundir um com o outro.
Ao conversar com uma mulher que dispensou um “fofo”, é muito comum descobrir que ela, na verdade, botou para andar um “bundão” — que se escondia por trás de atitudes fofas. Era supercarinhoso, mas incapaz de decidir qualquer coisa que envolvesse os dois. Bundão. Não parava de dizer que adorava ela, mas não conseguia tomar uma iniciativa para arrebatá-la. Bundão. O sexo era gostosinho, mas o sujeito parecia estar pedindo desculpas ao pegar no corpo dela. Bundão. Depois de um tempo nessa dieta sem calorias, a mulher perde a paciência para as coisas bacanas que o cara faz — as músicas que ele grava, o café que ele prepara, os carinhos sexuais que ele oferece sem pressa. Quer dizer: o cara perde o posto não por ser fofo, mas apesar de ser fofo. A fofice dele era a parte boa.
Acho que essa avaliação vale para qualquer mulher, desde que não seja machista. Se ela precisar de um cara que cuide, proteja, domine e intimide, talvez um fofo não sirva. Talvez seja o caso de procurar alguém com repertório mais tradicional. Está cheio deles por aí. Rude, em vez de fofo. Dominador, em vez de fofo. Distante, em vez de fofo. É uma questão de escolha e de inclinação pessoal. A gente não responde inteiramente pelo que nos provoca desejo e conexão emocional. Os fofos, de certa maneira, podem ser parecidos demais com as próprias mulheres para o gosto de algumas delas. Eu entendo, mas minhas simpatias se inclinam pelos fofos. Acho que o mundo está mudando na direção deles. Assim como as mulheres no século XXI podem exibir a palheta completa de seu temperamento — em vez de serem apenas mulherezinhas mimimi —, também os homens ganharam espaço para serem mais do que machos. Eles podem ser gentis, sensíveis, amorosos, até um pouco carentes. Fofos, enfim, daquele tipo que rola.
*Esse texto faz parte do novo livro de Ivan Martins: Um amor depois do outro.