• Carta aberta ao meu amor que ainda não chegou
  • Carta aberta ao meu amor que ainda não chegou


    Eu já passei da fase de idealizar alguém, de criar histórias improváveis e nunca tive muita paciência pra filmes de romance. Mas confesso que hoje senti saudade. E não é saudade do que já aconteceu, é do que eu gostaria que tivesse acontecido. Não é saudade de momentos que guardo na memória, é dos que eu não vivi até agora. Não é saudade de alguém que veio e foi, é de quem ainda nem apareceu.

    Tá, eu sei que é estranho pensar em alguém que não se conhece. E, pasmem, talvez nem exista. Pode ser que sim, pode ser que não. Eu não sei. Porém eu penso, sim, em você às vezes. Confesso.

    Essa noite eu gostaria que você estivesse aqui pra gente ter uma conversa. Sim. Você mesmo, que eu não sei o nome, a cor do cabelo e nem o número do telefone. Queria te contar sobre as fases que eu duvidei da sua existência, as que eu realmente quis que você não existisse, as que te confundi com outro alguém e as que eu torci para que você não demorasse tanto pra aparecer.

    Queria dizer que eu vivo bem sem você, que estou muito feliz, que aprendi a ser sozinha, que adorei descobrir a sensação de não ter que dar explicações pra ninguém nunca e que vai ser difícil me acostumar novamente a dividir a sobremesa. Mas confesso que, de vez em quando, eu sinto, sim, a sua falta. E não é de hoje.

    Eu senti sua falta nas vezes em que saí e vi milhões de caras iguais. O mesmo estilo de roupa, cortes de cabelo parecidos, atitudes semelhantes e papos praticamente idênticos. Sim, porque eu nunca te vi, mas sei que você é diferente deles. Eu senti sua falta quando conhecia alguém que parecia se parecer com você, mas, no final, não tinha nada a ver. Certamente, porque embora eu não te conheça, sei que um completo idiota você não é. Eu senti sua falta quando o Nando Reis cantou “All Star”. Previsível, porque me dei conta que o som que eu ouço não são as gírias do seu vocabulário.

    Eu senti sua falta quando vi aquele casal de velhinhos sorrindo e de mãos dadas na praia. Evidente, porque já que está demorando, eu espero mesmo que viva bastante tempo pra compensar.

    E hoje eu também senti sua falta. E escrevi porque eu tenho certeza que, caso exista, você me fará muito bem, virá com tanto, que somado ao meu muito irá transbordar. Sei que será a pessoa para eu desmoronar quando o vento for forte e me sentir vulnerável e pra jogar no sofá quando a vontade for grande demais pra chegarmos até o quarto. Sei que será a pessoa que me mostrará diversos caminhos, diferentes atalhos, novos pensamentos e que ficará quando todo o resto for embora.

    E é por isso que sinto sua falta. Porque sei que será a pessoa que um dia irá ler esse texto comigo, perceber que também sentiu essa saudade e dizer: Meu bem, não se preocupe, nós temos o resto da vida para matá-la.

    jessica


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