• Um amor pra viagem – sem picles, por favor
  • Um amor pra viagem – sem picles, por favor


    Meia-noite. Sabe quando você quer dormir, mas não tá com sono e nem em estado de alerta o suficiente para aguentar até o final o episódio inteiro de uma série? Meia-noite é também a hora oficial do seu companheiro de insônia, o Tinder. Porque aí você pega o celular, sem compromisso, pra dar uma olhada nos boy antes de dormir e, quem sabe até ter uns matches proveitosos ou wet dreams. Durante uma dessas empreitadas noturnas, depois de uns 20 dislikes, 3 matches, um ~flerte~ em potencial, na tentativa de uma abordagem, me joga a seguinte pergunta: “E aí, o que você acha que eu não vou gostar em você?”. Esse questionamento me deixou com a seguinte dúvida: será que as pessoas andam mais preguiçosas ultimamente?

    Sei que o rapaz em questão devia estar apenas de papo furado, mas chegou com uma aproximação um tanto quanto rola de pano! Uma fala preguiçosa, que quebra qualquer possível ~mistério~ de quando duas pessoas estão se conhecendo (essa fase é tão gostosa, né?) e te empurra direto para lugares comuns do que é estabelecido e padronizado como atraente ou não. Parece que as pessoas querem tudo mastigado. Geração Tinder de modus operandi. E não estou falando sobre o quesito transas casuais. Querem encontrar um amor na mesma velocidade que um Big Mac fica pronto. E aí dá nisso: “me conta o que eu vou gostar e o que eu não vou gostar em você pra agilizar o processo de triagem?”.

    Isso é uma imbecilidade tamanha porque, às vezes, o que não é qualidade para uns é exatamente o que provoca borboletas no estômago em outros. Porque perfeição não existe, porque relacionamentos são subjetivos, não são como uma equação matemática de adição de qualidades. Muitas vezes os “defeitos” que vemos no outro, são justamente as características que nos encantam, por serem diferentes da gente ou incomuns. O amor não é somar compreensões ou subtrair defeitos. É mostrar suas partes mais toscas, desnudas, obscuras, desprovidas de qualquer disfarce ou camadas e ser amado por isso e não apesar disso. Amar é somar incompreensões e imperfeições, afinal, ninguém sabe qual é o defeito que sustenta a sua maior qualidade.

    Quer uma prova disso? A declaração mais fofa de todos os tempos que ouvi na útlima semana foi: “Ela tem um mau humor tão bonitinho!”. E a beleza dela está no fato de ela ser sincera e quase involuntária. É uma demonstração de amor indireta, travestida de apenas mais um elogio/crítica inventada, cujas palavras escolhidas denotam uma paixão que não faz questão de se esconder e transborda por entre os vãos dos dedos porque é típica de alguém que está sedado de dopamina, como só os apaixonados ficam. Afinal, me diz: que tipo de mau humor pode ser “bonitinho”, ahm? Imagino, de cara, alguém com aquele bode matinal de uma segunda-feira pós feriado, que se esconde atrás do café e óculos escuro e amaldiçoa deus e o mundo por ter que deixar o conforto da sua cama às 7h da manhã, pegar um ônibus lotado e fazer mais duas baldiações até chegar no seu trabalho de merda. Quem pode achar alguém com esse nível de mau humor bonitinho? Quem em sã consciência faria isso? Ninguém. Só alguém chapado de endorfina e dopamina mesmo.

    Abraçar os defeitos do outro é um sinal de amor sincero. Porque é muito fácil apontar o dedo, abandonar o barco, achar que a pessoa é briefing para pedir alterações, tentar mudar o indivíduo de qualquer forma que ~encaixe~ melhor no seu mundinho. É fácil ficar preso na superficialidade de dispensar alguém do Tinder porque tem um nome bizarro, tatuagem brochante, faz selfie no banheiro com azulejo de fundo ou beijando golfinhos. Ninguém disse que o amor seria fácil. Apenas que valeria a pena.

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