O amor por si só já nasceu para ser flor colorida e vistosa no meio da aridez do deserto. Sentimento que desabrocha no mais cálido e improvável dos solos férteis que existem dentro da gente. De uma mísera migalha de afeto pode logo romper uma árvore estrondosa, dessas que vive perene e impetuosa por milhões e milhões de anos. Porque ele não precisa de muito. Não carece de um planeta, um dragão, muito menos um jardim. Nada demasiadamente impossível, tampouco demorado. O amor só precisa de corpo, alma, coração e fôlego. De preferência desses intermináveis, que nos faz mergulhar fundo na intensidade do sentimento, como crianças descobrindo pela primeira vez a imensidão e as maravilhas do mar.
Então se ele vier atrevido, meio abobado, quiçá destrambelhado, do jeitinho que a paixão que exala do peito exige ser, que eu consiga ser para ele como uma fonte no inabitado. Que eu seja fome, sede, que me entregue por inteira. Que o calor do sentimento que arde em cada um de nós se esgote em calor, em abraços apertados, em beijos incontroláveis, no mais doce e tenro sabor. Sem mimimi, sem “vou ver se dá”, sem “te ligo qualquer dia desses”, sem talvez ou blábláblá. A metade sempre cheia de um sentimento que não merece ser vazio. Porque o mundo lá fora está recheado de vãos, frestas, passos receosos, e falsos avisos de chegada. Então que os raios e os trovões sejam sim um presságio de turbulências, tempestades, desatinos e que a gente se aproveite da chuva para reaprender a dançar conforme o amor.
Que o mergulho seja de cabeça, sem cilindro de oxigênio ou colete salva-vidas, por completo, com toda a vontade do universo de ser feliz. E que só os loucos apaixonados consigam escutar a melodia que transpõe barreiras, atravessa cidades, e que bate na porta da sua casa a meia noite do seu aniversário apenas para que o primeiro beijo seja dele, do mais intransigente dos sentimentos. Porque ele se alimenta de sorrisos, da irracionalidade, do desejo inegável de se perder nos braços de outro alguém. Uma espécie de extraordinária loucura que toma a forma e a cor que o coração da gente quiser. Saudade, coragem ou solidão. Só sei que quando se é inteiro, nada se perde nesta canção.
Então se você está pensando em racionalizar a coisa toda, esqueça. Quanto mais espontâneo e descarado melhor. Ligue, aceite o convite, responda a mensagem, retribua o olhar, ofereça as mãos para um contato momentâneo, ou quem sabe, troque juras para uma vida inteira. Ame muito, intensamente, nem que seja pelo breve espaço de um drink ou dois. Derrube obstáculos, construa pontes, crie asas ao invés de raízes. O amor só começa a valer a pena quando a gente descobre que é possível submergir depois de se afogar. Só assim a gente prepara o salto sem medo, com o coração bem aberto para tudo de lindo que a gente pode encontrar. Sem “mas”, sem “poréns”, sem “entretantos”, sem pudor. Quando o amor vier que ele seja o retrato modernista da indecência e do embaraço. Porque não existe nada mais delicioso e honesto do que um amor sem compostura e sem um pingo de hesitação. #pensemenosamemais
OFERECIMENTO: SONHO DE VALSA
PARA QUE EU AME
É preciso que ela seja mais louca do que eu.
Que não fique hesitando, vacilando, negociando, adiando.
Que não puxe desculpas para fugir da verdade, que não crie culpa do nada, que não avise para ir com calma, que não peça coisa alguma, a não ser ficar mais perto, mais rente, mais tudo.
Que não estranhe a rapidez das declarações, a intensidade das juras, que já se abale de saudade com um dia longe.
Que seja obrigada a ressuscitar para preencher a ausência que passará a existir depois de nosso abraço.
Que seja tomada da sinceridade inabalável da música, que não tema enfrentar ninguém pela palavra, que seu silêncio tenha a aflição esperançosa de um poema.
Que transforme minha mão boba em inteligente, que segure minhas mãos já na cama.
Que não se arrependa da entrega, que não tenha feito isto com mais ninguém, que sua alegria seja exclusiva, que sua alegria guarde o meu nome, que sua alegria não seja um costume, um método, uma crise de euforia, que eu seja aquele que ela esperava desde a infância.
Que me escolha com o que o coração pensou – não há nada mais rápido do que o batimento. Que me escolha com o que o olfato pensou – não há nada mais rápido do que o cheiro. Que me escolha com o que a pele pensou – não há nada mais rápido do que a pele. Que me escolha com o que a boca provou – não há pensamento melhor do que o beijo.
Que ela acredite em destino, vidas passadas, acaso, desígnio, ascendente, mapa, que deixe a explicação do encontro para as estrelas, pois não dependemos de entendimento para a felicidade. Há excesso de significação na falta de sentido.
Que mergulhe sem reservas nos meus olhos profundos. Que não diga talvez, que não aguarde uma segunda chance, que não consulte as amigas, que não se diminua diante da família, que não traga dores antigas e fantasmas, que crie novas memórias a partir do desejo.
Que ela diga você é meu e eu sou sua.
Que ela dance cantando para mim. Que eu seja sua plateia e parte de seu corpo.
É preciso que ela seja mais responsável do que eu, a ponto de casar comigo no primeiro dia e jamais abandonar a loucura que é o amor.