• Nem só de amor vive uma relação
  • Nem só de amor vive uma relação


    A porta permanece o tempo todo aberta, difícil é saber a hora certa de deixar os raios de sol caminharem pelo vão de entrada e iluminarem a trajetória da partida. A possibilidade de saída é tão cômoda que em determinado momento a gente se esquece, de fato, de que realmente pode seguir outro rumo. Porque a linha entre persistir e insistir é tênue, limítrofe e um pouco melancólica. Às vezes o coração da gente acredita que está cultivando o sentimento certo, para só depois entender que amor não é barganha, reciprocidade não é migalha, e relacionamento não é algema para aprisionar nossos sonhos e desejos na travessia do outro. Aprender a regar os jardins do dia a dia é fácil, complicado mesmo é aceitar a hora de partir.

    A persistência faz parte das parcerias saudáveis. Nem os contos de fadas são 100% perfeitos, tem sempre uma bruxa querendo estragar a história toda, uma princesa meio destrambelhada, um príncipe que demora décadas para desvendar o sumiço da amada e um monte de contratempos que sim, levam ao tão sonhado felizes para sempre. Relacionamento é esforço e entrega total e diária, sem mimimi, sem “mas”, sem “hoje eu queria, amanhã não quero mais”. Saiba o que quer, decida seu caminho e persista sim, até a balança do romance chegar à estabilidade. Caia um milhão de vezes, levante em todas elas. Brigue, chore, esbraveje, mas saiba quando deixar a teimosia e a pirraça de lado para dar novamente espaço para a tranquilidade. Não desista, persista, invista todas as suas economias emocionais até quando o amor estiver em estoque. Agora o mais importante: aprenda a doar, aprenda a receber, e se permita entender quando aquela parceria não conseguir mais oferecer aquilo que ambos buscam de uma relação a dois.

    A coisa mais chata do universo é alguém insistente. Tipo aquelas empresas de telemarketing que ficam te ligando o dia todo oferecendo créditos, promoções, e um unicórnio no caso de você visitar algum país das maravilhas nos próximos 6 meses. É a mesma coisa quando você se relaciona com alguém que simplesmente não está mais disposto a se relacionar com você. Toda a mágica se perde porque a gente começa a cobrar mais do outro, a esperar mais das atitudes dele (a), e a forçar certos limites que foram construídos na esperança de se conseguir aquilo que se quer. E quanto mais a gente empurra essa barreira e tenta destravar a fechadura com uma chave que não serve mais naquela porta, maiores são as chances de rompimento, ou melhor dizendo, muito provavelmente aquela possibilidade de entrada que ainda existia neste relacionamento vai se fechar completamente para você.

    Infelizmente, a gente não manda no coração do outro. Quando as vontades se abraçam em sintonia, ou ainda, quando existe amor o bastante para recomeçar sempre e todos os dias, a parceria é gostosa e saudável. Quando o enredo vira cobrança, desgaste, impaciência, quando a persistência vira insistência, o timing não bater, e a palavra amor ficar coberta de tristes e amarguradas expectativas, a hora mesmo é de partir. E quando a gente a calma a vivência e pensa de verdade, com os desejos e os olhares da alma, é possível compreender que ir embora também é caminho. No começo um percurso dolorido, receoso, que esvazia a amplitude da respiração da gente, mas ainda assim, um caminho. Com novas probabilidades, novas pessoas, novos sorrisos, e um monte de outras chances para manter o balanço sempre em movimento. Insistir em quem já partiu da nossa estrada emocionalmente é perder em dobro aquele tempo precioso de esbarrar em alguém que realmente queira ficar.

    – Ah, mas eu SEI que ele me ama e é recíproco!

    Nem só de amor sobrevive um relacionamento e nem só de foliões mascarados se faz um carnaval. Retirar a venda é preciso, nada como a luz do sol para acender as pedras firmes da ladeira e rechear de amor-próprio onde é seguro caminhar.

    danielle


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