• Era a pessoa certa no momento errado
  • Era a pessoa certa no momento errado


    Às vezes, simplesmente não é a gente. Parece difícil de entender, quase como se um bloqueio emocional nos cegasse os olhos para a realidade e colocasse todas as nossas expectativas em um universo realmente paralelo. O timing não é o mesmo, a vontade de dividir uma coxinha com catupiry ou os lençóis recém-comprados não é a mesma, ou apenas o sentimento não fixou morada nos dois corações da mesma forma. Não é inconcebível compreender a situação quando é com a sua amiga, sua prima, ou sua colega de trabalho. Então porque é tão complicado assumir que a pessoa que a gente gosta não consegue retribuir o sentimento?

    Nenhuma negação é ao acaso, assim de surpresa. As pessoas transmitem indícios (bem claros inclusive) de que querem fazer parte da nossa vida ou não. E ao contrário do que muita gente pensa, muitas vezes a situação acaba com o nosso coração partido, mas não é por maldade do outro, é porque a gente insiste em permanecer numa relação sabendo que não existe reciprocidade. Como quando você começa a sair com um cara ou uma garota e da sua parte foi paixão à primeira vista, enquanto da outra é apenas uma oportunidade de te conhecer mais profundamente e sim dar uma chance para que um sentimento bacana floresça. Pode virar um amor desses arrebatadores, como pode não passar de alguns beijos divertidos na noite. O ponto é, a gente sente a troca de energias e de vontades, então porque cismar com um relacionamento que está fadado ao fracasso?

    É exatamente como a Summer e o Tom, do filme 500 dias com ela. Você pode ser a melhor companhia do mundo, a pessoa mais divertida para se sentar num boteco, com zero frescuras, extremamente carinhosa(o), totalmente curiosa(o) entre quatro paredes, a nora ou o genro que qualquer sogra pediu a Deus, mas simplesmente não é você. Não é você que faz o outro revirar os olhos quando suspira a palavra amor. Não é você que o impulsiona a pegar aquele ônibus lotado, naquele trânsito infernal, só para te dar um beijo de boa noite. Não é você que o faz vestir de papai Noel na festa de natal da família, só para ganhar um sorriso de bônus. Não é você que faz o mundo dele girar do avesso, dar cambalhotas, e saltos ornamentais, todas as vezes que o cheiro do amor no travesseiro o relembra de que existe alguém no mundo com uma essência tão compatível com a dele. Apenas, não é você.

    Duro, frio, e talvez racional demais, mas é assim que precisa ser. Quanto mais a gente se engana, se esconde da verdade, investe em uma parceria que é completamente unilateral, maior o nosso desgaste, maiores as nossas expectativas, e maior o tombo semanas depois quando dermos de cara com a pessoa que a gente escolheu gostar a todo custo, desfilando na rua com os olhos brilhando ao lado de outro alguém. Na hora não adianta se martirizar, bancar a traída, a iludida, e se questionar o porquê de ser ela e não você segurando aquele abraço. Estava evidente depois de uns bons meses de encontros casuais que ele não assumiria um compromisso mais sério. Também estava óbvio quando ela se esquivava da festa de aniversário do seu amigo de infância ou de qualquer outro evento que significasse uma proximidade sufocante. Você sabia, só não queria aceitar e nesse caso o sofrimento infelizmente, foi opcional.

    A beleza do amor, dos encontros de alma, da reciprocidade, é justamente o fato de serem presentes gratuitos, pequenos acasos afortunados do destino. Quando se precisa mendigar, comprar, barganhar de qualquer forma que seja esse livre-arbítrio de ser, estar e permanecer, toda a relação perde o propósito. Amor é muito “bate ou não bate”. Se os sentidos se abraçaram, que sorte a de vocês! Caso contrário, uma vodca, um chocolate, e uma mesa rodeada de amigos, por favor. Por mais pessoas que se sintam em casa no nosso ninho, e menos devaneios loucos que nos impeçam de ver além da curva da estrada. Que as permanências sejam sempre sinceras e que nunca nos falte sabedoria para acolher o inevitável.

    “Tom: Você nunca quis ser a namorada de ninguém e agora é a esposa de alguém…

    Summer: Me surpreendeu também.
    Tom: Acho que nunca vou entender. Quer dizer, não faz sentido.
    Summer: Só aconteceu.
    Tom: É, mas é isso que não entendo. O que só aconteceu?
    Summer: Só acordei um dia e soube.
    Tom: Soube o quê?
    Summer: O que eu nunca tive certeza com você.”*

    Por menos diálogos dolorosos como este, e mais coragem de sair pela porta quando os sinos da partida soarem. Que assim seja.

    *Diálogo entre Summer e Tom no filme 500 dias com ela.

    danielle


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