Todo dia eu acordo e faço o mesmo trajeto, salvo alguns desvios no caminho ou compromissos pontuais, viagens, férias, planos novos. É uma rotina com poucas alterações e, ao contrário do que dizem por aí, eu não acho que a rotina seja vilã da vida. Nah, acho bobagem quando dizem isso porque a maioria das pessoas não sabe sinalizar o problema.
O problema é quando a gente sente que aquilo, a tal da rotina, tá matando a gente aos poucos. Não tem nada a ver com a ordem elencada das coisas no dia a dia, mas tem a ver com o que são essas coisas. Você já sentiu como se a sua vida tivesse em autopiloto? Como se você tivesse sendo um espectador das coisas que vive, como se tivesse indo com o fluxo e uma hora a coisa muda? O problema é esse, é quando as coisas não têm sentido. Quando não tem propósito nenhum no que você faz e nem você sabe o que faz.
É isso que provoca aquela agonia nada gostosa que faz a gente ficar batendo o pé debaixo da mesa do trabalho impacientes pelo fim do expediente. Mas pra quê a gente espera o fim se o dia seguinte vai ser a mesma coisa? Olha, eu tenho brigado muito com essa sensação de que a vida está em autopiloto. Eu me pergunto diariamente quais são as coisas que eu amo, quais são as coisas que me dão prazer, o que eu posso fazer pra contribuir pro mundo, como eu me sinto vivo. E não tem sido fácil achar as respostas.
Eu trabalho demais, talvez você também trabalhe e fique com a sensação de que a vida adulta trouxe responsabilidades demais e que é sonho pensar que tem como mudar isso, afinal de contas a gente tem conta pra pagar no fim do mês e não é sonho nenhum que vai debitar valores. Talvez você faça nada e isso assusta pra caramba, né? Areia movediça, tempo de sobra, mas pra onde ir?
O que tenho tentado fazer é entender as coisas que me fazem vivo, o que me emociona, o que eu acho que sou bom e pensar em como transformar isso em algo dentro da rotina, seja no trabalho ou num hobby. Você já pensou em fazer teatro e viver vidas que não são a sua? Isso poderia te manter vivo. Já pensou em planejar metas, procurar um emprego mais a ver com você, pode ir com calma, você não precisa mudar da noite pro dia. Billy Joel já diria pra gente slow down, dar uma acalmada.
O importante é que a gente tenha um estalo, esse estalo que mostra quanto tempo da viagem de avião a gente dormiu e deixou o controle nas mãos de sabe-lá-quem. Retomar o controle e tentar, tentar muito, tentar todo dia, modificar as tais coisas, não a rotina, vai fazer com que a gente pelo menos se descubra. Talvez você descubra que gosta das coisas como são e é feliz, não há mal nisso. Talvez você perceba que precisa replanejar tudo e isso vai levar tempo, tudo bem, você só deve satisfações a você. Talvez você queira terminar o dia escrevendo um texto otimista contando pra outras pessoas como tem sido importante na sua vida sair da zona de conforto e procurar coisas que não te mantenham ligado às maquinas pra poder respirar, e talvez essa seja sua motivação.
Não existe caminho, caminho se faz ao andar. E não, essa frase não é minha, nem sua, mas poderia ser.