• Perdão por te perder
  • Perdão por te perder


    Perdão pelo tanto que eu não fui – e que devia ter sido – nos últimos meses.

    Perdão pelo tempo que passei demasiadamente ocupado com coisas que, perto do amor, não têm qualquer valor.

    Perdão pelas incontáveis vezes em que não reparei naquilo que o seu silêncio, desesperadamente, tentava me pedir. Você só queria um abraço bem forte e demorado, não é mesmo? Só queria um pouco de colo, um beijo no centro do olho e meus dedos – como costumavam fazer quando lhe conheci – brincando com os lóbulos das suas orelhas, agora eu sei.

    Perdão por não ter notado os vestidos que você comprou somente para que eu voltasse a notar a beleza que você carrega pra lá e pra cá. Como é que eu fui capaz de não vê-los, agora me pergunto, sem entender como pude trocar suas deliciosas coxas à mostra por planilhas no PC e por futebol na TV.

    Perdão pelas tantas desculpas esfarrapadas que inventei para não ir às festas da sua família e aos churrascos dos seus amigos. Perdão pelas mentiras que fiz você dizer para justificar a minha ausência em seus programas e a minha presença exagerada no escritório. Eu estava cego, assumo. Só conseguia enxergar coisas muito menos importantes do que “nós”, como o grandioso contrato que precisava ser fechado, a chance iminente de ser promovido e a disciplina idiota que eu precisava manter para chegar ao meu primeiro milhão antes dos 35. Eu estava tão ofuscado por coisas sem importância que não percebi a mais irrefutável de todas as verdades: de nada vale ter muitos reais na conta corrente se não posso mais convertê-los em crepes com cobertura extra, passeios de balão, risotos que queimam a língua, viagens inesquecíveis e outras experiências capazes de lhe fazer sorrir.

    Perdão pelas tantas vezes em que me calei e pelas palavras cheias de desdém que, até hoje, infelizmente, ainda ecoam em sua memória. Perdão pelos presentes sem cartão, genéricos e nitidamente comprados às pressas. Perdão pela recorrente falta de presença, mesmo nas vezes em que estávamos no mesmo cômodo, sobre o mesmo colchão.

    Perdão pelos vários atrasos sem causa, pelas vezes em que mergulhei em seu corpo de maneira extremamente rasa e por ter transformado, em pouco caso, um amor com potencial para se tornar casa.

    Perdão por ter demorado séculos para lhe pedir “perdão” e para começar a dar ouvidos ao meu coração.

    Perdão.

    Perdão por lhe perder enquanto eu tentava – em vão, obviamente – achar algo mais importante do que o amor.

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