A permissividade da nova geração é algo que de fato se deve reconhecer. Não sob o manto do moralismo barato, que nunca nos levou a lugar nenhum – longe de mim, aliás. O mundo sempre precisou de liberdade para amar sem amarras, sem hipocrisia, sem um romantismo inútil que nos despe daquilo que de fato somos em nome do amor.
Mas é que me parece, diante das baladas ébrias e das paixões efêmeras, que o mundo moderno é alérgico ao amor. A gente brinca de conquistar o outro o tempo todo. A geração do amor próprio a qualquer custo deixa de conhecer o outro – e amá-lo (ou não) tão naturalmente quanto deve ser – para se auto-afirmar através da conquista.
Ninguém liga no dia seguinte porque pode parecer desesperado. Ninguém se confessa apaixonado porque que tipo de pessoa se apaixona no século da pegação desenfreada? O amor deixou de servir para tudo aquilo que sempre serviu – os sorrisos, o sexo bem vivido, as pequenas doses diárias de felicidade – ele serve pra nos fazer sentir valorizados, porque sentir-se valorizado é absolutamente mais importante que qualquer coisa.
Ser adepto a joguinhos amorosos vai além da imaturidade juvenil. Soa amador, no sentido mais exato possível da palavra. É coisa de quem tem medo de se entregar, de se expor ao ridículo a que toda boa paixão nos expõe, de se mostrar inteiro, limpo, vivo, de peito aberto. Jogar é coisa de quem se defende do amor, e, quanta tolice! O amor nos torna indefesos, e essa é a graça. As pessoas tornaram-se tão autossuficientes que não querem estar a mercê de absolutamente nada. Desculpe, o amor é estar a mercê de tudo.
Se você gosta de joguinhos amorosos, provavelmente nunca provou a delícia das verdadeiras entregas. Daquelas entregas em que a gente não se preocupa com o que o outro vai pensar, com a imagem que vamos passar, com o personagem que desejamos compor: vivemos, simplesmente. Você provavelmente não quer a sensação de ser amado, completo, vívido, feliz. Você quer a sensação de poder, e – puta que o pariu – o poder é tão medíocre diante do amor.
E se sentir-se poderoso é assim tão importante, há inúmeras outras formas de fazê-lo: o mundo moderno comporta todas as espécies de auto-afirmação: no trabalho, na própria imagem pessoal, nas ideologias, na vida. Mas, por favor, não no amor. Seja poderoso de outro jeito – porque amor de verdade só serve pra sentir.