Paciência não é a cereja do bolo. É o tabuleiro que você coloca em cima da mesa quando decide fazer um bolo para a sobremesa de domingo. É o amigo invisível, aqueles R$ 50 que você acha perdido no bolso da calça, o último comprimido de analgésico no meio da crise de enxaqueca, é o que mesmo sem se ver salva. O essencial, o pedaço de chocolate perdido no recheio do sorvete, a verdadeira aliança que sela a singularidade de um compromisso.
Amar é muito, mas muito mais do que um status, um simbolismo, uma frase bonita. Amar é passar por cima da falha do outro sem esperar nada em troca. A renúncia da certeza. Viajar pelo caminho contrário da natureza humana e se encontrar ali, bem no olho do caos. Ser paciente em um relacionamento não é um luxo, mas sim uma necessidade. É o que divide os meros apaixonados, dos verdadeiramente enamorados.
Respirar fundo durante uma briga, abaixar o nariz para evitar uma discussão, não rebater a resposta atravessada do outro que está em um dia ruim, ser racional nas horas de tormenta é o que consolida a durabilidade de uma parceria. Não dá para ficar o tempo todo por cima na vida, quem dirá no amor. Pelo contrário, quando se trata dos assuntos do coração quanto mais a gente a gente fica “por baixo”, mais a relação sai ganhando.
Antes de embarcar nesse trem guiado por dois é importante se certificar de que todas as certezas estão ficando do lado de fora. A questão toda não é aceitar tudo e qualquer coisa, mas é saber quais brigas valem a pena ser compradas. Quando falta sanidade na rotina do outro, nós, a outra metade, precisamos ser o abrigo. E isso muitas vezes significa sim ficar em silêncio e deixar os raios e trovões apartarem a tempestade. Não somos menos humanos por isso, não assumimos um papel de submissão, não estamos aceitando migalhas, estamos sendo apenas parceiros. Verdadeiros e reais companheiros.
O maior amor do universo pode solidificar a fundação que se faltar paciência a coisa desanda mesmo. Sem dó, nem piedade. Isso engloba não estressar toda vez que ele esquecer a toalha molhada em cima da cama, não fritar quando se ela se atrasar pela zilhonésima vez para sair de casa, e manter a calma e a compostura quando a falta de respeito quiser falar mais alto. Paciência é o único sentimento capaz de manter o equilíbrio dentro de um relacionamento. O que nós mantém no mesmo patamar de igualdade, quando o ego atrevido tenta subir alguns degraus de escada.
Se a gente cede ao instinto de querer ter sempre a última palavra, no final das contas a decisão acaba sendo nossa mesma: a de ir embora por falta de reciprocidade ou a de ficar até que nenhum dos dois consiga mais olhar dentro da vivência do outro. É quase impossível algumas vezes, mas saber conversar, respeitar os limites da pessoa que está ao nosso lado, saber discernir o que é um dia ruim e o que é um desvio de comportamento pode ser o diferencial entre quem fica e quem de fato vai embora.
Áries, touro, leão, escorpião, não importa o ascendente. Se toda vez que alguém rugir a gente responder rugindo de volta, o estranhamento deixa de ser um simples descompasso e se torna uma briga de gigantes de proporções épicas. Onde um não quer, dois não brigam, já dizem por aí. Muito melhor manter a razão (e o amor) abstraindo algumas diferenças, do que erguer o chifre por qualquer coisa e instigar a disputa. Não é questão de anulação, mas sim de saber pelo que gritar. Debater por tudo é um saco e cedo ou tarde desgasta a paixão. Guarda a cara feia para um problema sério de verdade. No correr da vida, seja leve. Quando o outro cansar de rugir você fala. Nada mais desconcertante do que alguém que sabe manter a calma. E a alma.