Há um tempo atrás, acho que faz 2 anos ou mais, escrevi um texto defendendo como natural a forma com que homens traem as mulheres. Fui babaca, pra não dizer o óbvio: machista e injusto. Hoje, retornando ao tópico da traição, revejo meus próprios conceitos e minha visão sobre o assunto. Traição não é um fato natural, um acaso do destino programado pra acontecer na vida de toda e qualquer pessoa. Não. Traição é uma questão de escolha.
Se você já assistiu ao filme Closer, você provavelmente se lembra da cena em que Alice diz a Dan que existe uma escolha. Que você sabe que está começando a se envolver com outra pessoa e pode escolher deixar isso acontecer ou cair fora, manter sua vida a dois inabalada e manter sua palavra. É sobre essa escolha que eu gostaria de falar.
Acredito muito que exista escolha. Talvez não exista escolha em sentir algo por alguém. Talvez você se apaixone por outra pessoa que não é a pessoa com quem você está, e isso não se escolhe. Mas o que você faz com o que sente é escolha sua, uma decisão que pode afetar mais gente do que o seu ego pode enxergar. A maioria das pessoas, quando chega a este momento, o crucial momento de decisão, escolhe ir em frente e considerar a traição uma aventura. Eis que, como diria um sábio amigo meu, uma vez que se rompe essa barreira da primeira traição e a pessoa percebe que não é um monstro, as coisas ficam mais fáceis.
Quem trai alguém teve um ponto de virada de jogo. A tal pessoa poderia escolher terminar o relacionamento e lidar com seus sentimentos de forma honesta, com as outras duas pessoas envolvidas nessa decisão. Ela poderia repensar o que vale a pena, já que o que define o seu relacionamento com alguém é o compromisso estabelecido. É a forma com que você escolheu dividir sua vida com alguém. Quebrar esse acordo, colocando a culpa na impulsividade e no instinto, é a desculpa clássico de um traidor que foi pego. É a desculpa clássica de quem não quer arcar com as consequência e prefere ser passional, acusando uma terceira pessoa do crime de tê-lo seduzido. Ou pior: assume a traição e diz que não poderia evitar. Poderia sim.
Ninguém é obrigado a ficar com alguém, ninguém escolhe o que sente por outra pessoa. Amores se findam, novos amores começam. Mas a forma como um amor é findado e outro começa faz toda a diferença. É nessas horas que penso sobre a importância de sermos honestos com nossos sentimentos. É nessa hora em que temos que decidir se ferimos as pessoas que dizemos amar ou se seremos porcos egoístas que só pensam na própria felicidade e nos próprios desejos. É nessas horas que separamos o joio do trigo e percebemos que pessoas têm, sim, sua chance de fazer a coisa certa. Elas não fazem porque não querem. Não fazem porque já escolheram o que queriam fazer.