Temos uma mania constante de deixar pra lá as coisas que não parecem grandes o bastante pra gente dentro dos relacionamentos. Deixamos de lado o elogio bobo sobre a cara de sono, guardamos o sentimento bonito de admiração pelo outro, inibimos quão bom é ser a companhia de alguém.
Isso me lembra uma música do Cícero que pede calmamente pra dizer pro outro que ele é um sonho bom que mudou o tom da sua vida. Qual foi a última vez que você disse isso pra ela?
A maioria das pessoas passa pelas nossas vidas sem saber como elas modificam nosso dia a dia. Os amores, por exemplo, estão lá e salvo demonstrações genuínas de afeto pelo corpo, todo o resto é fala. Todo o resto é comunicação. Todo o resto depende das coisas que você (não) diz e deixa morrer na ponta da língua.
Qual o problema em falar pra ela que acha engraçada a pinta da coxa esquerda, que amou aquele papo de outro dia sobre as influências astrais sobre as nossas vidas? Fala pra ela que você ama o gosto de café no beijo dela, que adora ouvir as músicas afinadas que ela canta no banho, que ama o jeito como ela te faz feliz. Não espera até uma data importante ou um momento de crise – pensem e pasmem: a gente só fala pro outro nas DRs e nas reconciliações, nunca no cotidiano comum de dias úteis -, fala pra ela logo. Fala pra ela sobre o teu dia, sobre a piada do porteiro, sobre o que a sua mãe disse sobre os olhos dela. Não deixa morrer no peito tudo o que você sente, ela precisa saber, você precisa dizer também.
Costumo dizer que um amor bom é aquele cujo silêncio entre os dois não incomoda. Tem gente que confunde isso com omissão profunda de sentimentos. Com aquela coisa de achar que não importa, não é interessante, não vai fazer diferença. É aí que a gente erra. É aí que a gente se cala e não fala pra ela. Mas assim como flores são nada sem um cartão, por menor que ele seja, amores silenciosos demais também são nada. Por isso, fala pra ela.
