A literatura, o cinema, a novela e a Disney fizeram a gente acreditar nessa ideia de “felizes para sempre”. E não é que isso não exista. Existe sim. O problema é que “o felizes para sempre” não é um ponto final de amor infinito. Felizes para sempre é uma jornada que não termina nunca e exige esforço, paciência e muitos – e inevitáveis – dias de não-felicidade.
Ser “felizes para sempre” não é para os fracos, para os que desistem no primeiro desentendimento, para quem só sabe ouvir “sim, meu amor”. É para quem está disposto. Para quem quer passar pelos obstáculos da rotina, quem sabe aceitar que o outro é um ser humano cheio de defeitos e falhas – assim como você.
Ser “felizes para sempre” é para quem gosta consertar, melhorar e emendar e não para quem trata tudo como se fosse descartável jogando as coisas fora na primeira oportunidade para comprar uma melhor, mais nova e mais brilhante.
Mas não me entenda mal. Ser “felizes para sempre” não é insistir em relacionamentos fracassados. Não é engolir o choro e seguir calado ou passar noites em claro pensando que algo está errado, mas é melhor isso do que nada. Uma das tarefas mais difíceis para alcançar o “felizes para sempre” é admitir para você mesmo que isso não é o que você está vivendo agora, que a sua vida está mais para “infelizes para sempre” do que qualquer outra coisa. E que às vezes ser feliz sozinho está muito mais próximo do “felizes para sempre” do que fingir que é feliz com aquela pessoa.
Como você pode saber quando vale a pena consertar e quando não vale? Quando você sabe a diferença entre ter algo muito precioso que só precisa de um band-aid e ter mil cacos de vidro que nunca vão ser nada além de cortes nas suas mãos? No fundo, mesmo que seja bem no fundo, você sempre sabe. Não adianta esperar aquele relacionamento de contos-de-fada onde a casa se arruma por mágica e vocês resolvem questões do dia a dia com ajuda de pássaros e música no fundo. Mas você sabe a diferença entre um relacionamento que têm brigas ocasionais e um relacionamento que parece que é feito de brigas.
“Felizes para sempre” é tempo pra caramba, então é normal que nesse período infinito vocês briguem de vez em quando. Começa a ficar estranho se vocês brigarem de vez em muito. E fica mais estranho ainda quando vocês brigam porque ela não trocou o rolo do papel higiênico ou ele não colocou fronha combinando com lençol ou um dos dois se atrasou sete minutos para chegar ao barzinho. Fica difícil ser feliz para sempre brigando por cada pequeno detalhe do dia a dia.
Viver no “felizes para sempre” é entender que a outra pessoa não é um príncipe ou uma princesa encantada. Que de vez em quando ele até pode aparecer em um cavalo branco, mas na maior parte do tempo ele vem é de bicicleta mesmo. Vocês vão viver momentos incríveis e conhecer lugares fantásticos, mas é provável que o dia a dia de vocês seja comer lasanha em casa, assistir netflix no domingo e beber uma cerveja com os amigos nos finais de semana. E acredite, saber valorizar esses pequenos momentos são o que te colocam mais próximo de alcançar o “felizes para sempre”.
A recompensa para quem consegue ser “felizes para sempre” não é um tesouro, uma coroa ou reconhecimento internacional. “Felizes para sempre” se faz entre quatro paredes. Claro que pode envolver muitas recordações, muitas fotos, muita exposição digital. Mas não são os likes e os seguidores apaixonados por esse casal incrível que vão manter esse relacionamento de pé, saudável e forte. São vocês dois. E só vocês.
Os pessimistas dirão que é impossível ser feliz para sempre com alguém. Mas é que eles ainda não entenderam que ser feliz para sempre não é ser feliz todo dia, mas sim ter a certeza de que mesmo no meio dos desentendimentos, da rotina e da bagunça da vida a dois não existe outra pessoa com quem você gostaria de estar.
Talvez seu “felizes para sempre” não dure de fato “para sempre”. Mas o que importa mesmo é ter sido feliz enquanto ele durou e saber que – se o outro não quis ficar – ficarão as experiências para o próximo “felizes para sempre” porque essa é a parte mais legal de não se viver em um conto de fadas: no mundo real não existe apenas um único amor verdadeiro e você tem infinitas chances de ser feliz.