Não foi o preço. Não foi o barulho. Não foi falta de tempo. Depois de tantos anos de comunicação calculada, a verdade é que eu desaprendi a falar no telefone. Hoje, se alguém me liga, eu me assusto. É hospital? É dinheiro? Se tá tudo bem, por que ligou? Parece que toda ligação requer justificativa. Tirando a minha mãe e os funcionários de operadora que atendo frequentemente, é como se existisse um pacto: ou a gente se encontra ou você me deixa pensar.
Prefiro não correr o risco de ser surpreendida. Tenho substituído o nervosismo das ligações de aniversário por cômodas mensagens de voz. Não é falta de amor. Pra mim, a espontaneidade virou um esforço. Quero ter a liberdade de descartar o áudio no primeiro silêncio de dúvida. Quero poder reescrever a palavra para me mostrar mais sensata. Quero ter o conforto de não ser interrompida. Uma sequência de exclamações não exprime o meu espanto. Uma fila de emoticons chorosos não expressa nem um pingo de dor. E é nessas meias mensagens que eu me sinto mais segura.
Quando paro para pensar nos conselhos que já recebi, “não fale com estranhos” foi, de longe, o mais ignorado. Sou de uma geração que adora estranhos. Eu curto estranhos, compartilho estranhos, guardo, na minha timeline, uma quantidade significativa de gente que eu nunca vi, mas considero meus amigos.
Problema hoje são os conhecidos. Tenho falado pouco com gente que gosto muito e percebi que abaixo meu rosto quando alguém entra no elevador. Se tiver celular, olho para tela. Se não tiver, olho pra baixo. O silêncio me dá aflição, mas assustador mesmo é puxar um assunto. Como não sei ir muito além do boa noite, melhor fingir que estou bem ocupada.
Se, para alguns, a internet é uma janela, para mim é um esconderijo.
É nesse esconderijo que eu encontro todo mundo.