• Sobre felinos e a arte   de amar sem dominar
  • Sobre felinos e a arte


    de amar sem dominar


    [Aqui está uma carta para o meu gato. Isso pode ser também o que você quer dizer ao seu.]
    Frodo,
    Acho que você não está inteirado sobre as baboseiras humanas (agradeça ao Deus felino por isso), mas vou te atualizar: dizem que vocês, gatos, não são afetuosos.

    Não posso compreender isso. Você me parece muito afetuoso quando me acorda ronronando perto do meu ouvido. É muito amor quando estou triste e você me afaga, ou quando eu volto de uma viagem curta e você dá pulinhos engraçados de alegria, ou quando se deita ao meu lado enquanto trabalho.
    Muitos preferem os cachorros (eu também gosto de cachorros, Frodo, conforme-se.) Dizem que, diferente deles, vocês são independentes demais e que não amam aos donos, mas às regalias que uma vida doméstica lhes oferece. Fique tranquilo, querido, eu não acredito nisso.
    Você não é tão empolgado quanto o Dachshund da minha amiga, e tudo bem. Eu compreendo que é apenas uma questão temperamental. Nós, humanos, também não demonstramos amor sempre da mesma maneira que os outros humanos (e a sua maneira de demonstrar amor é excepcional).
    Sei que dizem isso porque não querem amor: querem dependência. Talvez não consigam amar o outro sem dominá-lo, por isso jamais conseguiriam lidar com a sua rebeldia. Preciso confessar que, na verdade, acho lindo quando tento te dar ordens e você não obedece. Em vez disso, me olha de canto e sai todo empinado. É como você dissesse: eu moro aqui mas ainda sou dono de mim. E não há nada mais lindo do que ser dono de si.
    Quando se tem a companhia de um gato, não se pode dominá-lo. É preciso deixar que ele seja exatamente o que quer ser – e esse é um exercício complexo para nós, humanos.
    Estamos acostumados a adequar o outro às nossas necessidades, querido. E quando vocês não nos deixam fazer isso, nos defendemos dizendo que vocês não são afetuosos – quando, na verdade, nós é que não conseguimos compreender o afeto que não domina e não importuna.
    Você não tem culpa se temos problemas em amar sem dominar. E eu continuo te amando apesar da sua rebeldia – aliás, continuo te amando também pela sua rebeldia. Não os escute, Frodo. Como eu, há muitos humanos que te compreendem.
    P.S Continuo chateada porque você espalhou papel higiênico pela casa.

    ass-nathalie


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