• Eu tive a certeza que seria amor
  • Eu tive a certeza que seria amor


    Vi uma foto tua ontem de noite e dei uma risadinha. Quantas risadinhas a gente não dá ao longo da vida quando esbarra com um amor adormecido que a gente nem lembra mais que um dia teve? Costumo chamar esse sentimento de anestesia consciente, dessas que a gente dá no cérebro para ver se o coração para de palpitar um pouco por toda e qualquer pessoa por quem a gente já se apaixonou um dia.

    Essas pessoas foram receptáculos de orações poderosas, de carinhos temporários, de aumentos incontroláveis de ligações para DDDs diferentes e, consequentemente, de aumentos de contas. Tiveram dedicação exclusiva por quanto tempo, uns seis meses ou uns seis anos, depende, não me lembro exatamente de quanto tempo mantive minha atenção toda em você. E quando eu digo atenção, digo tudinho: a paixão, a vontade de ficar junto pra sempre, a frustração, a percepção de que as coisas estavam se arruinando, o seu sumiço, a sua volta, o seu pedido de desculpas, o meu orgulho enlatado como se fosse atum, a promessa silenciosa de que a gente não iria tentar de novo, o show em que te vi com outro, o jantar que a gente marcou para enterrar tudo. Sobrou carinho, sabia? Porque um dia eu tive a certeza de que seria amor.

    Seria? Mas não era antes? Não, eu sabia que levaria um tempinho, não sei quando, para amadurecer e virar amor. Desculpa, eu não sou de amar nas primeiras páginas, nos primeiros minutos de apresentação, nas primeiras cinco músicas de um show. Eu amo quando alguma coisa atinge o topo, no êxtase da coisa, no clímax, quando não dá mais para voltar atrás. É ali que eu amo. Faltava alguma coisa para chegar ali com você, mas a caminhada não era tão longa assim. Não deu trilha, não deu pé. Mas eu tentei, te juro que tentei.

    Brinco um pouco com meus amigos dizendo que eu não tenho a menor ideia do que a gente foi, mas foi bonito. Lembrei disso por conta da tal foto, e parece que meu olfato despertou junto com a anestesia dispensada. Consigo sentir de novo teu cheiro, consigo lembrar da sequência de fatos que fizeram eu me apaixonar por você. Curioso isso, né? Mas eu sei exatamente quando me apaixonei por você, a gente sempre sabe. E sabia o que fazer para deixar que virasse amor, se dependesse de mim. Não depende, nunca depende. Ainda assim, deixa pra lá.

    Retomo os cuidados e as anestesias. Medicações perigosas essas que a gente aplica ao coração. Se não forem bem manipuladas, causam feridas maiores e rombos emocionais mais desgastantes ainda. Pra minha sorte, foi só uma foto num momento errado da noite. Pro azar de muita gente, pode ter sido o despertar de alguma coisa que a gente luta pra deixar quieto e não fazer barulho nunca. Eu tenho, digo, nós temos medo. Medo que isso acorde de dentro da gente e não encontre ninguém aqui fora para brincar de amor.

    daniel

     


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