Nunca aprendi a gostar de ninguém, muito menos a desgostar. Não sei se é falta de habilidade ou só mesmo impaciência. Das vezes que eu tentei foi um desastre. Faltava tesão, vontade de ficar perto, sobrava aquele distanciamento que eu gostaria de saber simular quando realmente estou a fim.
Seria cruel se não fosse tão genuíno. Quando não há interesse, o descaso transborda sem intenção. A gente se esquece de responder, é ríspida sem pensar, todos aqueles compromissos corriqueiros tornam-se inadiáveis. Dormir bem vira prioridade, bem como acordar em casa, com roupas limpas.
Não há nada que se possa mudar. Em vez de “não é com você, é comigo”, talvez fosse mais sincero dizer: não é com você, é com a gente. Se um filme não vira uma confusão no sofá, se eu não invento um motivo para falar de você, se a gente mais se defende do que se aproxima, então pra quê?
Acho que a vida é grande demais pra passar com quem a gente não brilha. E isso vale pros dois. Eu não consigo explicar o que faz certos olhos parecerem mais confortáveis do que outros, mas sei que posso reconhecê-los. Enquanto tanta gente fala em lutar por amor, amor, pra mim, é deixar. Se fosse questão de técnica, eu provavelmente aprenderia. Mas vejo como um mistério e prefiro continuar acreditando.