• O prazer de fazer nada com você
  • O prazer de fazer nada com você


    Quando alguém menciona a palavra rotina a maioria das pessoas vira a cara. Torce o nariz, franze o olhar daquele jeito de quem comeu jiló e não gostou e, claro, logo dá de ombros. O cool do momento é ser criativo, divertido, diferente e estar por dentro de todos os dez passos milagrosos para manter a chama do seu relacionamento acesa que a revista feminina “ensinou”. Ah, esqueci de dizer: A TODO MOMENTO. De repente, deixar a relação cair na rotina virou um palavrão. Ninguém quer algo banal, clichê e vulgarmente normal. A dura verdade é que todo mundo quer um romance de cinema, mas ninguém espera os créditos para entender como acontecem os bastidores.

    É graças ao dia a dia que a gente pode receber sorvete do namorado na saída do dentista sem ter vergonha das bochechas do tamanho de bolas de golfe. Também é por ela que está permitido o pijama furado de ursinhos, o cabelo desgrenhado pela manhã, a sessão de cinema em casa sem um pingo de etiqueta e aquele culotezinho que deveria incomodar, mas se soma à barriguinha de cerveja do parceiro e fica tudo certo com boas risadas. Nada no universo paga o preço de se ter a liberdade de ser exatamente quem se é ao lado de alguém e não ter medo ou receio ou se sentir inferiorizado por não estar correspondendo a nenhum padrão. Porque você não precisa provar nada a ninguém.

    Chato mesmo é essa necessidade vendida de que precisamos a todo instante estar em busca de coisas mirabolantes para sair da mesmice. Não estou criticando aquela surpresinha depois do trabalho, a lingerie nova ou a viagem sem muita programação num final de semana qualquer, pelo contrário. Acho super saudável dar uma fugida da zona de conforto de vez em quando para relaxar a cabeça e voltar com novos ares. O problema está em acreditar que se nada fora do comum for feito no relacionamento semanalmente a convivência não é mais gostosa. Gente, pára com isso! Rotina é tudo de bom.

    O engraçado é que quando a gente sai de uma relação e entra na outra o que mais se sente falta é justamente da fase do equilíbrio. Em que ninguém precisa fazer média, bancar o que não é para conquistar o outro e ficar escondendo a verdadeira personalidade para não assustar o escolhido logo de cara.  Como tudo na vida as parcerias são feitas de etapas. A etapa da novidade, das descobertas, de achar o nosso lugar no cotidiano do outro é aquela no iniciozinho. Uma delícia, mas que não faz sentido se for mantida por dez longos anos. Tudo é progresso e evolução. É preciso se permitir outras andanças.

    O melhor caminho é aquele em que a gente anda pra frente, de mãos dadas, e no fim encontra a si mesmo no lugar de origem. Não é objetivo estar com alguém esperando ansiosamente pela próxima novidade. Se ela não vem a gente se frustra, se questiona, repensa caraminholas e começa a almejar a grama do vizinho, que acredite, não é mais verde que a nossa. Estar em uma rotina é uma grandessíssima vitória. Angústia, insônia, dessassossego, isso tudo a gente vivencia quando não tem compromisso com ninguém e fica igual boba desejando que as coisas se tornem constantes. Quando elas finalmente são a gente benditamente resolve que quer é o alvoroço?!

    Quem não dá paz para o seu coração é você. Deixe as borboletas alcançarem um bater de asas mais tranquilo, coloca a pantufa do Pateta, aquela camisola velha e aproveita o que de melhor o seu relacionamento tem a oferecer: intimidade. Nada como a serenidade no olhar de quem não precisa correr para esconder do outro as pernas sem depilar mesmo estando dentro de casa. Estar em casa é bom demais. Estar em casa é privilégio para poucos, aprecie.

    danielle-assinatura


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