Ouvi dizer que as mulheres de 30 estão desesperadas. Que estamos agoniadas. Que temos perdido o sono armando planos pra caçar um homem pra chamar de nosso. Um marido para arrastar para as festas e mostrar ao mundo que a gente deu certo.
Porque isso que a gente faz todo dia, de trabalhar, almoçar, encontrar gente, não é vida. Vida vai ser quando nós tivermos uma aliança cara, o dia que entrarmos na igreja para dizer o sim da eternidade. Esse tipo de promessa, aliás, sempre parece muito suave, sabe? Dizem que casamento é tão tranquilo que nós temos cogitado nem namorar. Queremos um amor à primeira vista pra contar para os filhos. Ah, filhos. Um dia desses a gente engravida “sem querer” só pra realizar esse sonho. Não é assim?
Não, não mesmo, mas “desespero” é uma palavra tão pesada sempre me faz imaginar absurdos. Pessoas em desabamentos ficam desesperadas. Pais que perdem a família ficam desesperados. Desespero, ao meu ver, é um sentimento bem distante do que alguns encontros deveriam provocar.
Quando penso nas razões que levam a formular esse tipo de frase, vejo que estamos sendo mal interpretadas. Pode ser que estejamos impacientes, verdade, e é possível também que a nossa sinceridade seja até um pouco assustadora. A pressa, entretanto, tem menos de loucura do que de praticidade.
Vou dar um exemplo estranho: imagine que o amor é uma geladeira, dessas imensas, bonitas, prateadas. Ninguém compra uma assim só porque a oferta é boa. Seria muita inocência acreditar que alguém que mora em um flat vai resolver mudar de casa só porque o IPI baixou. Só vai querer geladeira quem vê valor e já reservou esse espaço.
Sei que a metáfora é horrível, mas, na minha cabeça, um relacionamento exige interesse e se não houver disponibilidade é melhor nem começar. A essa altura, todo mundo já tem uma história e a ideia de que convivência é algo muito fácil só persiste para os mais desavisados. Querer demorar menos para descobrir se a vida do outro comporta esse tipo de experiência é uma questão de pragmatismo.
Desespero seria aceitar uma situação que não nos é confortável. Seria acreditar que existe um protocolo e que todo mundo merece 120 dias de teste antes que a gente possa se pronunciar. Desesperador seria não entender que as pessoas querem coisas diferentes e que não dá pra forçar ninguém a mudar de ideia.
Eu não uso mais as mesmas saias de antigamente, eu não frequento as mesmas festas da adolescência. Com os anos, deixei de gostar de várias coisas, não porque fossem ruins, mas porque eu mudei.
Hoje eu queria alguém pra dividir as felicidades e as decisões importantes da vida porque elas são muitas agora. Nesses tempos de tanta turbulência e pouca vaga, queria sim um namorado para dar a volta com o carro enquanto eu compro o pão. Queria saber o telefone dele de cor para vir me buscar da próxima vez em que eu for assaltada. Seria legal planejar um fim de semana em algum lugar que a gente goste. Eu posso secar os cobertores porque na minha varanda bate muito sol.
Os exemplos são cotidianos, mas são essas trocas fabulosamente simples que me interessam. Qualquer um tem o direito de não querer, mas isso de taxar as mulheres de 30 me dá aflição. O fato de uma mulher querer casar não significa que ela vai noivar com o primeiro que aparecer. O fato de ela querer ter filhos não significa que pretende engravidar de qualquer um. Existem diferenças escandalosas entre uma situação e outra e, se você se não consegue perceber, então talvez seja mesmo melhor partir.
Vá tranquilo, querido.
Você nos faz um favor.