Pela primeira vez na vida a ideia de que quase todo mundo faz um joguinho na hora de flertar me pareceu positiva – e não mais tão intragável, como sempre foi.
É que, outro dia, eu quis muito um cara. Não só porque ele era inteligente e original, mas também porque mexia na barba do jeito mais lindo do mundo quando não entendia qualquer coisa.
Eu sorria, ele sorria de volta, eu perguntava, ele respondia, eu compartilhava minhas músicas e ele compartilhava as dele. Falávamos trivialidades, mas ele nunca me chamou pra sair. Como ele era um cara legal, era difícil saber se ele estava me dando mole ou só sendo ele mesmo – um cara legal.
No século da competição pelo posto de quem se importa menos, a gente já quase não sabe o que é uma rejeição de verdade. Não me procurou por que não quis ou só pra eu procurar primeiro? Esse ar de indiferença merece ser levado a sério? Isso é um jogo comigo?
Então, pensar que ele talvez estivesse só fazendo um joguinho me trouxe certo conforto. Se era assim, seria fácil de resolver – porque, pasmem, eu não me importo em ser a parte que se importa mais. (Jogos amorosos dão muito trabalho e são previsíveis demais, eu prefiro Mortal Kombat.)
Vamos acabar com isso. Convidei-o pra sair. Ele levou uma turma enorme e gargalhamos a noite inteira. De novo eu não sabia se ele queria ser só meu amigo, se era tímido demais pra tentar mais do que isso (timidez: gosto) ou se era só mais um grande jogador anti-sentimental pós-moderno.
Não gosto do ciclo conhecer – sair – ficar. “Deixa estar”, eu sempre penso. E, que me perdoe a geração do imediatismo: meu coração não tem pressa. Deixei-o estar.
Depois de uns dias eu o vi sair do cinema com uma moça bonita que tinha cara de marroquina. Ele sorriu, me perguntou se eu tinha gostado do filme e me apresentou à moça com cara de marroquina, que por acaso era sua namorada. (não se preocupem, superei e passo bem.)
Acontece que ele não estava jogando, ele só não queria ficar comigo. Acontece que na vida adulta as pessoas se aproximam por diversas razões e o flerte é só uma delas. Acontece que – acredite – às vezes a pessoa simplesmente não te quer – e tudo bem.
Nossa interpretação viciada em pensar que o outro está sempre cheio de terceiras intenções se estarrece diante de reações humanas comuns – como ser simpático com uma semi-desconhecida que se aproxima sem flertar diretamente.
Esta anedota – eu nem precisaria dizer – é uma exceção. Na maioria das vezes ele quer mesmo te colocar na geladeira. Quer te ter na mão, quer testar seus limites e a sua paciência. Na maioria das vezes ele está fazendo jogo sim. Mas, que soe o aviso: Nós já podemos considerar a possibilidade de que às vezes não é jogo, é falta de interesse mesmo.
E antes que eu esqueça: Mais um 7×1 para a minha conta.