Todos os momentos que vivi até hoje são um ensaio para a vida que quero ter quando tudo se ajustar.
Quando eu era adolescente, pensava que esse momento chegaria assim que eu terminasse o ensino médio. Saí da escola e me dei conta de que ainda não era a hora. Ah, eu estava errada, o botão de start só poderá ser apertado quando eu sair de casa. Um ano depois eu estava indo morar sozinha em São Paulo e, mesmo lá, eu tinha uma sensação de que não era aquilo. Tá, tá – pensei. Será quando eu me formar. Quatro anos mais tarde, com o canudo na mão, eu estava pronta para, finalmente, viver de forma plena. E aí me dei conta que não dava para dizer que eu era dona da minha existência enquanto meus pais ainda me ajudassem financeiramente.
Foram muitos adiamentos e, quanto mais próximo eu parecia estar de “chegar lá”, mais aquele lugar se afastava. E, trocando uma ideia com as engrenagens incansáveis da minha cabeça, me dei conta daquilo que estava tão na cara, mas que passou “batido”: Esse dia nunca chegará. Foi como se eu notasse a presença de um mamute que sempre andou na minha cola durante esses quase 25 anos. Algo completamente absurdo de não ter sido visto.
Todos têm objetivos. A vida é impulsionada pela busca da satisfação pessoal. Mas, se engana quem acha que uma hora “tudo vai ficar bem”. Não é assim que funciona. Sempre vai ser possível ascender e, eu sinto informar, caso você não tenha se dado conta ainda, de que você não chegará a esse lugar no topo de uma montanha em que tudo já foi conquistado e onde, enfim, você poderá sossegar. A vida, amigo, é desassossego. E a nossa trajetória não é uma montanha, é uma linha sinuosa e infinita.
Eu sei o que você está pensando: mas, um dia eu vou morrer. Verdade, vai. E a linha continuará seguindo rumo a esse lugar desconhecido. Somos apenas uma parte dessa história que, uma hora, segue sem a nossa presença. Pode parecer meio depressivo, mas, não é. O que todas essas constatações querem, urgentemente, nos dizer é que agora é o momento. E não quando você tiver mais dinheiro, mais independência, menos peso, mais roupas legais, mais amigos ou menos contas.
Não dá para adiar nem sequer um dia. A vida já esta acontecendo. Aquele vestido pendurado, ainda com a etiqueta, no seu guarda-roupa poderia estar rodando na pista do forró da esquina. Esse mesmo em que você sempre desiste de ir, na última hora. São tantas provas, todos os dias, de que tudo não passa de um sopro, mas, ainda assim, a gente tem uma mania de Deus, de que nada nunca acontecerá conosco. Ledo engano, porque a verdade é que a gente não sabe nada sobre o futuro. Ele ainda não existe.
Por isso, é chegada a hora de fazer o que se quer e parar de deixar aquele trabalho dos sonhos, aquela vontade arraigada ou aquele amor antigo para depois. O depois é a reticência após cada palavra que você escreve no agora. Assim como aquele lugar no topo da montanha, ele não existe. Quando chega, já é presente.
Então, tira todas as etiquetas, rasga as embalagens e se permite aproveitar esse momento único que você está vivendo. Vai somando, amando, cantando e sambando. Mas, vai agora.