Tudo bem que sempre fui alguém que se sente entediada facilmente, mas não há nada – nem filas de espera, nem programas de auditório, nem subcelebridades – que me entedie mais do que gente cheia de certezas.
Gente que pensa que sabe o que estará fazendo daqui a dez anos. Planeja cinco filhos e dois cachorros – já sabe até os seus nomes – a data do casamento, o modelo do vestido e o país que escolherá para o pós-doutorado – quais escolhas sobrarão para o momento oportuno, o único momento em que a vida de fato acontece, o agora?
Imagino o quanto deva ser desgastante – e isso é só um detalhe ínfimo – planejar todos os passos. Que tempo deve sobrar pra viver? Pra sentir no rosto o sol das primeiras horas do dia, pra observar e absorver a vida, pra se ater aos detalhes que, no fim das contas, são a própria felicidade?
Quando a gente planeja tudo, nada é surpresa. E como disse Paulinho Moska: “Qual é a graça de já saber o fim da estrada?”
Na crise das possibilidades – aquela em que tudo está posto diante dos nossos olhos e nós só precisamos de coragem para escolher e determinação para buscar – Deus me livre de não estar perdida. Deus me livre de ter todas as respostas nestes tempos em que as perguntas importam mais.
Deus – seja lá quem for – me livre de estar completamente convencida de qualquer coisa que seja em um mundo em que milhões de coisas são descobertas e outras milhões são desmentidas o tempo todo.
Então, tudo bem estar perdido.
A vida é mesmo uma confusão – e o excesso de certezas pode ser (e é, constantemente) indício de uma triste insensibilidade. Ter certeza de tudo em um mundo que “nos confunde para nos esclarecer” – Salve, Tom Zé! – denuncia a ignorância ao fato de que nem todas as questões do universo dependem de nós e que, sim, a vida tem o seu próprio movimento – a gente só precisa seguir o fluxo e, quando necessário, aceitar o caos.