Essa história de “dar um tempo”, você sabe, costuma ser licença para dar aquela variada. Coisa que se diz quando se quer beijar outras bocas sem correr o risco de perder a boca que se quer beijar pelo resto vida – exceto, é claro, por um tempo.
É óbvio que não é desse tempo que eu estou falando – embora haja quem goste, eu, particularmente, acho que “dar um tempo” é conversa pra boi dormir.
O tempo em questão é aquele do qual você eventualmente precisa quando teve uma semana cheia, quando não aguenta mais o trabalho/faculdade/família. É o tempo que você precisa naqueles dias em que sente o desejo repentino de simplesmente sumir.
Um tempo sem cobranças, sem expectativas, sem perguntas, sem porvir. Um tempo para estar ao lado do outro quase sem se deixar perceber, quase como um “eu estou aqui apenas para casos emergenciais.” Um tempo que a gente dá quando percebe que o outro não tem condições de nos amar.
Aquele tempo em que você está presente mesmo sem estar – porque a ausência, quando oportuna, também é prova de amor. Você é um expectador, e contenta-se com isso simplesmente porque, naquele tempo, a pessoa que você ama precisa estar sozinha no palco. E tudo bem.
Ninguém sabe ao certo quanto: pode ser um ano, um mês, uma semana ou um minuto. Não depende de você. O tempo do outro pode ser – e certamente é – diferente do seu tempo (e querer investigar isso é, por si, invasivo.)
Apenas dê tempo a quem você ama. Um tempo sem elucubrar sobre os sentimentos, sem planejar nada, sem colocar sobre as costas do outro qualquer responsabilidade.
O tempo – senão um santo remédio – é um belo apaziguador. Acredite no meu clichê de estimação: ele põe as coisas no lugar. Elas voltam lindas, vivas e transparentes, como se o amor despertasse de seu sono de beleza – ledo engano, aliás: para quem (se) dá um tempo, o amor nunca dorme.