Decidi assistir ao último capítulo da sétima temporada de Gilmore Girls antes de começar a versão produzida pela Netflix. Chorei. Não só porque a série fez parte de um momento bom da minha vida, em que sonhava junto com a Rory o dia em que também me tornaria jornalista, mas também porque agora eu sei o que significa deixar a mãe e a pequena cidade para ir em busca de um sonho.
Sentir um aperto no coração por deixar alguém talvez seja a pior e a melhor sensação que se pode ter. Afinal, não sofremos por deixar quem não se importa. Não sofremos para dizer até logo a quem não queremos mais ver. O último abraço apertado vai ser sempre daquela pessoa que faz a sua vida ser indescritível. Que vai sempre ligar para saber se você trancou direito a casa, pegou o passaporte ou se tirou o ferro de passar da tomada. No meu caso, ainda tem perguntas como: desligou o gás? Tirou o lixo? Tá levando pijama? Eu sempre esqueço o pijama. Mas se vou pra casa dela, tudo bem. É só vestir qualquer coisa que cheire a mãe que tudo vai ficar ok no dia seguinte.
Me deu um certo alívio quando voltei para casa pela primeira vez e ela tinha transformado meu guarda-roupa em uma espécie de closet. Todos os dias ela entra lá e monta looks coordenados e preenche aquele espaço que antes era meu. A única angústia que ainda existe é que o dia de ir embora chega, e vem tão rápido que eu mal consigo disfarçar que queria só mais um tempinho pra dar aquele abraço apertado com aquela voz estranha que só a gente faz, juntas, quando queremos dizer o quanto estar juntas é a melhor coisa do mundo.
Ir embora exige coragem. Uma coragem que muitos não têm e eu respeito. Respeito mesmo, porque não é fácil ir e deixar quem se ama ali, esperando o dia da volta. Quem vai tem sempre essa sensação de culpa e de dívida. Acontece que quando mudamos de cidade, quando fazemos as malas, quando nos aventuramos, levamos o que importa e deixamos o que importa também. Fazer falta e sentir saudade é a maior prova de reciprocidade que se pode ter na vida. Amar nem sempre é fácil com o turbilhão do dia a dia, com o peso da rotina, com o stress dos problemas. Mas amar à distância é sempre guardar o melhor de nós para o momento da ligação telefônica, da conversa de vídeo, daquele oi lindo na porta do desembarque.
Sorrisos como o dela não são fáceis de encontrar e parece que, desde o dia que fui, ele fica ainda mais lindo quando me vê. Eu sei que a ausência nos afasta, mas eu sei também que sonhos realizados nos torna cúmplices daquilo que construímos juntas. Pelas mães que ficam, pelas filhas que vão, não há nada forte do que esse laço que permite o movimento desses corações, que mesmo separados, batem felizes por saber que, onde quer que elas estejam, vai ter sempre uma Lorelai fantástica esperando uma Rory sensacional realizar tudo o que aprendeu com a melhor mãe do mundo. A coragem não é só de ir, mas de ficar e de deixar ir e de voltar, porque o amor de mãe é a melhor coisa que alguém pode ter. Obrigada mãe, sem você, jamais faria sentido chorar ao ver Gilmore Girls.