Amor é um daqueles sentimentos que deixa a gente meio bobo mesmo. Tudo é lindo, tudo é perfeito, tudo é o melhor que poderia ser. A priori não existe nada de errado nisso, quando estamos apaixonados é normal que os olhos brilhem um pouquinho além pela pessoa que escolhemos para estar ao lado. O problema é o endeusamento. Quando a gente leva o amor a um novo patamar que não é necessariamente bacana. Aquela pessoa cheia de bagagens, falhas, que comete mancadas como qualquer um se torna imaculada apenas por estar aparentemente dentro dos padrões “socialmente aceitáveis”. Apesar dos milhares de erros ele é um bom namorado, ela é uma boa esposa, eles são pessoas legais. Será?
Assumir que o outro também erra e não é um ser humano perfeito faz parte do alicerce de um relacionamento saudável. É essencial compreender os limites do parceiro, estabelecer os nossos e aceitar quando um dos dois ultrapassar o viés daquilo que consideramos permissível em uma parceria. O perigo de fechar os olhos para a realidade das coisas é permanecer e se sujeitar a uma situação que não é mais vantajosa para o casal. Resumindo, facilita admitir o timing quando tudo chegar ao fim. O momento de sair fora muitas vezes se perde justamente porque o outro é “tão bom, mas tão bom”, que temos medo de não conseguir nada melhor. Ficamos presos a uma relação fracassada por carência, receio da solidão, conveniência.
Somos humanos e definitivamente não temos nada de divino. Deslizamos, trocamos os pés pelas mãos, escorregamos. Aquele(a) que mente, trai, omite, desvaloriza, te trata como vigésima opção, te responsabiliza por descuidos que não são seus não pode em tempo algum ser uma pessoa digna para estar com você. Não interessa se ele(a) cuida das contas da casa, troca uma lâmpada queimada ou liga diariamente querendo saber se o seu dia foi bom. Somos autossuficientes e hoje em dia milhares de tutoriais na internet te ensinam desde desentupir a pia da cozinha até construir uma nave espacial. Às vezes precisamos de mais, infinitamente mais e é crucial saber acolher este momento e seguir adiante.
O outro não precisa ostentar uma máscara social de queridinho para caminhar com você. Ele precisa te fazer bem, te tratar melhor ainda e arregaçar as mangas pela relação. Foda-se o que o resto do mundo pensa. Qualquer traço fora dessa linha é para agradar um universo do qual você não faz parte. Que maravilhoso que o relacionamento já foi sensacional um dia. Se deixou de ser, se virou puramente bem querer (porque sim, a gente pode continuar amando sem necessariamente sentir vontade de estar naquela parceria), se o copo está tão cheio que o desgaste do casal está cada dia mais a flor da pele, sinto muito, mas passou da hora de partir.
De um modo geral, quando existe um descompasso nosso que precisa ser suprido de alguma maneira nos apegamos muito ao passado. Ao que a pessoa era há 10 anos quando o relacionamento começou. Tudo é passível de transformações, ainda bem. O semideus e a princesa de antigamente podem se tornar monstros e bruxas facilmente, infelizmente acontece. Como isso interfere na rotina deles só diz respeito a eles, como isso afeta a sua vida é problema seu. Menos endeusamento da figura alheia e mais discernimento para saber diferenciar o que foi, o que é e o que jamais voltará a ser. Bonito mesmo é quando o que existe dentro da gente é exaltado acima de tudo e qualquer suspeita. O amor-próprio sim alimenta e vale a pena. Porque nada vale mais do que a nossa paz e haja árvore no planeta para sustentar tanta fantasia de papel de trouxa.