Na geração da praticidade e das mensagens instantâneas, “vamos discutir a relação” equivale a “vamos subir a escadaria do Bonfim de joelhos”.
Uma DR é sempre um sacrifício, um mal necessário – desnecessário, pra muita gente – o sinônimo mais óbvio de desgaste emocional.
Relações entre seres humanos – sinto muito – envolvem, na maioria das vezes, desgaste emocional. Sentir e viver o amor é pra quem suporta a carga psíquica – é isso ou se contentar com o tédio da superficialidade, onde nada precisa ser dito porque ninguém se importa.
Pessoas que discutem a relação são, definitivamente, pessoas que se importam. Para dizer o óbvio: o diálogo é a matéria prima de toda conexão. Há os olhos, é claro, há os gestos, há as coisas que não se pode traduzir em palavras, mas não se alinha interesses, opiniões expectativas em silêncio: discutir a relação não é só necessário, é salutar.
A boa notícia é que isso nem sempre precisa ser ruim. Na verdade, isso não precisa ser ruim nunca. Se a ideia de uma DR te assusta, você está fazendo isso errado. Muito errado.
A questão em torno do monstro das DR’s, penso, é evidente: Diálogo saudável nunca fez mal a ninguém. O que desgasta não é discutir a relação, é fazê-lo repetida e descontroladamente.
É que os nossos tão humanos desequilíbrios produziram pessoas viciadas em brigas (e em pazes). Tem gente que “discute a relação” três vezes por semana, a cada mensagem “suspeita”, a cada resposta monossilábica, cada vez em que as coisas saem um milímetro do esperado – “a gente não tá fazendo nada, mesmo, vamos numa DRzinha pra ver se acontece algo diferente nessa bodega que a gente chama de relacionamento?”
Aí enfraquece.
Isso não é discutir a relação, é procurar sarna pra se coçar. É coisa de gente que não sabe aguar o bom do amor. É coisa de quem não quer ser feliz. De quem usa as DRs como desculpas pra infernizar a vida do parceiro e a própria vida – principalmente a própria vida, é bom ressaltar.
O problema, na verdade, não é discutir a relação, é discutir a relação sempre pelas mesmas razões. É voltar sempre para o mesmo ponto. É girar descompassadamente em torno do próprio caos. É mencionar aquela mentira que ele contou em 2012, e que já deveria estar superada. É transformar todo pequeno desajuste em uma tempestade.
Discutir a relação é uma coisa, brigar como hobby, outra.
Aliás, se você precisa expor o mesmo problema várias vezes para o seu parceiro, há um ruído de comunicação, no mínimo. As DR’s não existem para ‘dar uma apimentada na relação’ (nota: tente uma posição nova na próxima vez que quiser dar uma apimentada na relação) – DR’S existem para que os problemas sejam superados, para que os ruídos sejam sanados, para que as cartas sejam postas na mesa.
Diálogos são necessários porque toda relação precisa de ajustes, como um instrumento musical, que a gente precisa afinar, polir e trocar as cordas de vez em quando – é isso ou a música é paulatinamente substituída por um barulho incômodo.
Uma DR salutar não deixa rastros sombrios. Vocês terminam e vão passar um café, tranquilos e leves. Vão assistir outro ep da série preferida de vocês, conversar trivialidades ou transar sem neuras.
Se não for assim, é porque não funcionou. Não foi DR: foi briga como hobby.
Só é DR se tem início, meio e fim – principalmente fim: Discutir a relação é conversar, resolver e esquecer – pelo menos até a próxima crise.