“Diga-me com quem andas e eu te direi quem és” nunca fez tanto sentido: ficamos parecidos com as pessoas com quem convivemos.
Um processo natural, certamente, e que resulta não da convivência pura e simples, mas da convivência somada à entrega.
Quando você se entrega, você vê o filme predileto da pessoa e no fim você sabe que também queria ver o filme mas, sobretudo, queria ver a pessoa através do filme. E então você acaba gostando, ou detestando, mas não é capaz de manter-se indiferente: O filme predileto dessa pessoa fará parte, para sempre, do seu repertório de experiências pessoais.
Um filme é apenas um filme, você dirá, mas há os trejeitos, os termos, os hábitos, os restaurantes, as manias, a quantidade de colheres de pó no café, as séries, as músicas – os detalhes compartilhados e, inevitavelmente, absorvidos. (Se você não absorve a quem você ama, você não está vivo).
Poucas ilusões são tão críveis quanto a originalidade, mas o fato é que somos resultado das experiências que compartilhamos: uma colcha dos retalhos de nossos amigos, de nossos afetos, de nossos desafetos, de nossas antigas versões – daí porque todo contato com entrega exige cuidado.
Escolher as próprias companhias é escolher com quem se compartilhar. Escolher ter diálogos que te farão pensar por dias ou passarão por você que nem brisa de verão. Escolher olhos que acolherão suas dúvidas, as mãos que construirão coisas com você e em você, os amigos que te farão sair de casa num sábado à noite ou aparecerão em plena terça com algumas cervejas e um papo longo.
Sorrio fácil e até divido uma mesa, mas meus afetos são raros: Meus poucos amigos pra mim são muito e minhas paixões (que conto nos dedos de uma só mão) conseguiram carimbar a minha alma – eis, no fim das contas, o que importa.
Não precisa amar todo mundo – o amor, aliás, é para os raros.