• Você vive ou apenas sobrevive?
  • Você vive ou apenas sobrevive?


    Uma vez, enquanto estava trabalhando formalmente, conversava com uma amiga sobre o ciclo que a gente tinha estabelecido: acordar, ir pro trabalho, passar o dia lá, chegar cansado, dormir pra acordar cedo no dia seguinte de novo e por aí vai. Era trabalhar pra pagar contas, comprar bens materiais – ou nem comprar – e nunca sobrar uma grana pra juntar. Pelo contrário, cheque especial era o rei do fim de mês. Não que eu não e ela não tivéssemos uma vida minimamente agradável, mas por que nós fazíamos aquilo? Eu ficava indignado com a forma como aquilo não parecia certo. Como é que a gente pode passar a maior parte da vida tentando sobreviver à ela?

    Parece que a maioria de nós se esqueceu de ter um propósito. Nós só entramos numa rodinha de hamster e começamos a correr, correr e correr. Uns tentam juntar dinheiro para comprar uma casinha e passar 35 anos pagando por ela. Outros querem um carro ou um celular top de linha. Tem gente que só quer ter condições de pagar os estudos. Tem gente que trabalha pra poder comer. Outros batem no peito dizendo que preferem viver, viajar, ver o mundo e se dividem em vários para trabalhar por aí e realizar o sonho de preencher o espaço com novas experiências. Tem gente que passa a vida economizando e guardando dinheiro sabe-se lá pra quê. Todo mundo tem o seu modo de viver e eu não tô aqui pra dizer o que é certo ou errado, o que é fácil ou difícil, quem tem oportunidades melhores sabe que as tem (ou deveria saber).

    Meu papo aqui é outro. É mais algo em torno de “por que caralhos a gente tá fazendo isso tudo?”. Não existe um plano, uma motivação, alguma coisa que habite dentro de nós e nos guie em torno do que nos faz mais felizes? Não tô dizendo pra você largar o trabalho e ir criar ovelhas, até porque você precisaria de dinheiro pra se alimentar (e comprar ovelhas). Tô dizendo que muitas coisas que fazemos e a maneira como assimilamos a vida parte de uma lógica externa, não interna. Nossa escolha por caminhos vem de coisas e referências que pegamos do mundo e raramente temos plena consciência sobre quem somos, o que nos faz bem, quais caminhos podemos seguir para termos uma vida mais completa.

    Descobrir mais sobre nós mesmos é um caminho complicado. Só eu sei o quanto foram difíceis os primeiros dias de terapia e de admitir pra mim que eu era um bando de névoa em estado de ebulição. Só eu sei o quanto foi difícil admitir que o caminho dos meus sonhos sofria com graves buracos na estrada de falta de propósito. E foi aí que eu dei uma pausa de umas horinhas no fim do dia pra repensar isso. Mudar a nossa perspectiva não significa fazer rupturas intensas nem precipitadas. Significa mover nossa vida pra uma direção importante, que possa nos levar a ter algo a mais pra nos motivar que apenas contas – caso tenhamos esta oportunidade.

    Viver é um negócio muito doido, sabe? Num dia a gente tá aí, no outro pode não estar mais. E a vida que você viveu? Foi uma boa vida da qual você se orgulha ou foi só instinto de sobrevivência?

    Ainda dá tempo. Dá tempo de parar num fim de tarde e se indignar com a falta de propósito que existe em levar as coisas como elas são, sem nunca se perguntar o porquê delas serem assim. Dá tempo ainda de ser um pouco mais feliz sem ter que, necessariamente, virar a sua vida de cabeça pra baixo.

    daniel


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