• O que Você Tem no Meio das Pernas Não Importa
  • O que Você Tem no Meio das Pernas Não Importa


    No dia em que você puder afirmar que se conhece, então sua existência não terá mais sentido. Somos camaleões que vão se transformando ao longo da vida de acordo com as influências que recebemos, com as reflexões que fazemos, com as pessoas que conhecemos. Algo do qual você tinha certeza ontem, pode não fazer mais sentido algum para você amanhã. Uma crença que você tinha, pode se desmanchar em questão de segundos diante a certas revelações. Raul entendia isso muito bem quando disse que preferia ser uma metamorfose ambulante do que ter uma opinião formada sobre tudo. Sendo assim, jamais poderemos tentar nos definir, sem que isso implique em uma limitação. As pessoas parecem se esquecer disso ao tentar encaixar seres com diversidades incontáveis, em 3 categorias de orientação sexual – hétero, homo ou bi.

    Coisa chata essa de querer dar nomes para tudo, de encaixar todo mundo em padrões pré-estabelecidos e nada funcionais. Se formos parar para pensar – o que significa ser hétero? É aquele que gosta do ser do sexo oposto? Como ele pode ter tanta certeza assim? Quantas relações ele se permitiu ter com alguém do mesmo sexo?E o que significa ser bissexual? Se eu fiquei com uma mulher uma vez significa que agora deixei de ser hétero para me tornar bi? E se eu ficar 2, 3, 4 vezes? Serei gay então? Qual o limite? E aquele ser que se intitula gay – em momento algum ele pode se interessar por uma pessoa do sexo oposto?

    Sexualidade não é matéria exata. Não existe forma para definir os limites entre as categorias impostas pela sociedade. Quando nos lembramos que não somos paus, bucetas e cus ambulantes – mas sim pessoas que possuem paus, cus e bucetas – então entendemos verdadeiramente o quanto vago é tentar encaixar pessoas em categorias. Não nos apaixonamos por um par de peitos ou por uma bunda redonda (pelo menos não deveríamos) – nos apaixonamos por um ser que tem um par de peitos e uma bunda redonda. Essa é a grande diferença – deveríamos buscar encontrar mais seres e menos corpos. Mais a essência e menos a aparência. Se o essencial é invisível aos olhos, então que tristeza constatar que temos nos apaixonado pelo dispensável, deixando o que realmente importa de lado.

    Outro dia mesmo presenciei um climão numa festa de família porque uma das filhas havia assumido que estava namorando com uma mulher. E dentre comentários do tipo “ela envergonhou a família” e “só a aceitaremos de volta quando ela deixar de pouca vergonha”, não pude deixar de sentir pena. Não pela moça que teve coragem de bancar uma escolha não aceita por pessoas que não pensam. Mas sim, por aqueles que recriminam – seres dignos de dó, seres que não entendem nada de sensibilidade, que julgam o caráter do outro baseando-se numa escolha totalmente individual e intransferível de cada um. Acreditar que realmente pessoas se encaixam em categorias é uma prova irrefutável de que você se tornou um indivíduo manipulado, que engole verdades sem mastigá-las. Um robô que não se questiona e que vive de acordo com as regras do jogo impostas pelo sistema.

    Que lindo um mundo no qual as pessoas se apaixonam por pessoas – porque fulano ele tem ideias ótimas, porque ela tem a risada mais contagiante do mundo, porque ele tem pontos de vistas interessantes, porque ela faz um boquete como ninguém, porque ele te enxerga, porque ela te acolhe, porque ele beija de um jeito delicioso. No meio de tantas coisas boas pra se buscar no outro, deveríamos priorizar o que o ser tem de interessante, em vez de priorizar o que ele carrega no meio das pernas. Só assim, pode-se encher a boca para dizer que conseguiu realmente ver a beleza interna do outro e reconhecer que ele é um ser único, cheio de vontades e desejos, cheio de defeitos e qualidades, cheio de diferenças e sincronicidades.  E então, ao ver-se apaixonado por um ser que coleciona tantas características que o faz ser apaixonaste diante dos seus olhos, então o fato de ele ser homem ou mulher passa a ser somente um detalhe. Só dessa forma é possível ter certeza que você enxergou o essencial – aquilo que permanece invisível para tantas pessoas que não querem enxergá-lo.


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