• Especial #lingerieday: a Capacidade  Feminina de Admirar a Própria Sensualidade
  • Especial #lingerieday: a Capacidade


    Feminina de Admirar a Própria Sensualidade


    Deixando as hipocrisias de lado, mulher que adere ao #lingerieday é a mulher que se acha. Se acha bonita e/ou gostosa, ou adora seus peitões, ou dá torcicolo de tanto olhar no espelho a bundinha empinada que tem, ou usa shortinho até nesse frio lascado porque sabe que tem deliciosas coxas roliças. Uma coisa que poucas mulheres entendem é que não é necessário ser rata de academia ou uma modelo magrela pra ter o “aval” de se considerar gostosa. E daí que tem barriguinha? E daí a celulite? E aquela gordinha que tem um rosto lindo, quadris assassinos e peitos que praticamente imploram por uma espanhola? Pura neura. Eu mesma já pesei mais arrobas que um saudável boi Nelore, e com muito sofrimento e dieta cheguei aos suados 65kg. Apesar de tanto tempo emagrecendo, em vista dos anoréxicos padrões modernos continuo sendo considerada “gordinha”. Em vista dos marombados padrões regidos pelas musas do funk e pela Era das Mulheres-Frutas, eu sou mesmo considerada “roliça”. Mas quer saber? Gordinha e roliça é o caralho; pra quem já pesou cento e tantos quilos, eu me acho é muito das gostosas. Loooonge de ser uma Panicat, mas eu me comeria.

    “Gordinha e roliça é o caralho. Loooonge de ser uma Panicat, mas eu me comeria.”

    Entretanto, vale a pena lembrar que mulher que se acha bonita/gostosa é diferente de mulher que se acha melhor que as outras por ser bonita/gostosa. Na minha opinião, não tem ser humano mais desprezível do que mulher que põe suas vaidades acima do resto do mundo, e acha que é uma princesinha por default só porque (acha que) tem a beleza acima da média. Normalmente, essas criaturas são agraciadas por uma genética favorável e desde muito novas não precisam se esforçar muito pra serem aceitas em um grupo ou fazerem sucesso com os machos. Megan Fox e Luana Piovanni ilustram de maneira literal as mulheres muito gatas mas que, infelizmente, são pessoas com um caráter nada exemplar. Esse é o tipo de mulher que debocha da gordinha tomando sol na praia, arranja defeito nas mulheres tão ou mais bonitas do que ela, e esnobam de maneira cruel o pobre coitado que ousar passar-lhe um xaveco. Todo mundo já conheceu uma nojentinha desse naipe, geralmente eram as escrotas mais populares no Ensino Médio. Essas daí sim se acham, mas se acham com força.

    Creio que esse segundo caso não se aplica a nós, twitteiras ou blogueiras que aderem ao #lingerieday. Não somos ultra-gostosas, somos humanos normais, com celulite, barriguinha, defeitos e a exímia capacidade de nos expressarmos em menos de 140 caracteres. Exceto pela prática em ser concisa, não somos diferentes da surfista que adora exibir a barriga sequinha na praia, ou a sertaneja que toma sol de bundinha pra cima no meio do clube, e acha graça quando os homens soltam uma cantada de pedreiro. Independente de tribos, rótulos e gostos pessoais, somos apenas mais uma na horda de mulheres que se acham gostosas. A diferença é que temos um dia especial pra expor isso na internet. E quer saber? Por mim, tem mais é que tirar a roupa e mostrar a lingerie mesmo, sem medo de ser julgada por fazer o que tem vontade. Toda mulher tem mais é que se achar gostosa mesmo. Se gostar de exibir isso, melhor ainda.

    Por exemplo, acho a coisa mais saudável do mundo mandar “aquelas fotos” pro namorado, ou fazer “aquele showzinho” via webcam quando a saudade aperta. O problema disso é só se o namorado/parceiro for um babaca sem discrição, que sai por aí espalhando a intimidade quando acaba o relacionamento, mas enfim. O que importa em todas as situações que descrevi –inclusive o #lingerieday- é a simples capacidade que a mulher tem de se admirar. Gosta de ser desejável e desejada, e gosta mais ainda quando o(s) outro(s) reconhece(m) isso. Necessidade de auto-afirmação? Talvez. Não gosto muito de over-filosofar desejos ou fetiches, normalmente eles têm uma origem simples e que não exige grandes reflexões ou debates. Ainda assim, não entendo como a mesma mulher que posta foto de bíquini é a mesma que chama de “biscate” as meninas de calcinha pro #lingerieday. Oras, pois… as carnes das duas não estão aparecendo?

    Essa pseudo-liberdade é um pouco intrigante pra mim ainda. Quero dizer, desfilar de biquíni pode, mas postar uma foto de calcinha, não? Indo mais além, muitas das meninas que adoram exibir o corpão por aí são as mesmas que pedem pra apagar a luz na hora do sexo. Ou seja, num dia especial do ano todo mundo se solta como se fôssemos mesmo um povo que lida super bem com questões sexuais, e no resto do ano voltamos para os nossos postos de defensores de tabus. Muitas das minhas amigas aqui de Goiás me puxam de canto pra falar “nossa, adoro seus textos sobre sexo, mas não tenho coragem de curtir no Facebook porque meus amigos vão ver”. É essa falta de espontaneidade natural que me intriga, essa aura mística de proibição que ainda gera tabus sexuais é que tem de ser trabalhada. Cada vez mais a exposição do corpo feminino vem se tornando normal –é só olhar a quantidade de mulher sem roupa no carnaval, na frente de um monte de crianças- mas abordar o assunto ainda é complexo e delicado. Cadê a liberdade que é tão exposta, porém que não se debate? É um tema complicado, mas enquanto ainda pipocarem fotos de gatas semi-nuas no meu twitter uma vez por ano, eu fico feliz.


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