O amor berrava no meu rádio e repetia “I Love You” sem economizar decibéis, como se essa expressão universal a todos fizesse um sonoro sentido, em qualquer língua e com qualquer nota. Eu ouvia, ouvia e não entendia nada.
O amor estava presente no primeiro, no centésimo e, inevitavelmente, no último capítulo de cada novela, como se nenhum roteiro completo, nessa vida, pudesse ser escrito sem a presença desse ilustre personagem com faceta de coração.
O amor sempre sentou na poltrona ao lado da minha e, incontido, soluçava nos mesmos romances que eu assistia sem entender o real motivo das lágrimas na hora do fim. O amor beijava desesperadamente sem preocupar-se com o filme projetado na telona, agarrava forte, sem importar-se com a Coca-Cola intocada e condenada a perder todo o gás enquanto as mãos sedentas, de outras pessoas, passavam longe do copo plástico. O amor não tinha tempo para o balde lotado de pipoca, estourava sempre em outros peitos e nunca havia pipocado no meu.
O amor estava presente em tudo e em todos, nas paredes pichadas, nos quadros expostos, nos guardanapos dobrados e nas fotos iguais, tiradas aos pés da torre Eiffel. Eu até suspeitava que o amor existisse, mas eu ainda precisava conhecê-lo. Elas diziam que me amavam e eu respondia perguntando se ia chover. Evitava brechas em nossos papos, pois sabia que entre um carinho na mão e um beijo no pescoço, eu poderia deparar-me com uma declaração legítima de amor, com a qual certamente não saberia lidar. Não sabia o que era o tal do amor, mas mecanicamente entendia que meu silêncio poderia soar como uma pedrada na cara da mulher ansiosa por um: “eu também”.
Procurava pelo amor em toda esquina, em cada passo e até no Google, mas descobri que o amor é um terremoto impossível de ser previsto. E, então, justamente, quando buscava apenas uma lasanha congelada no supermercado, acabei esbarrando com meu primeiro amor – na verdade, pisei no pé dela e, em poucos minutos de conversa fiada, meus olhos estavam pregados em seus olhos e nossos corações batiam audivelmente descompassados. Eu nem poderia imaginar que a partir dali viria a entender o real significado do “I Love You” que tanto ouvia nas ondas do rádio, sem precisar de tradutor ou intérprete.
Definitivamente o amor é algo difícil de ser explicado, pois nasceu para ser sentido na pele e cravado como lança na parte mais nobre do coração. O amor é indescritível, é um invasor maravilhoso e impossível de ser barrado ou escolhido. O amor é a fusão imprevisível que não marca hora para acontecer, apenas vem, mistura e transforma tudo em reflexo dele, transpondo as barreiras do coração, consumindo nossa energia, matando a nossa fome e escondendo o nosso sono.
Por isso, sinto-lhes dizer que, ao contrário do que diz o título desse artigo, o amor nunca poderá ser entendido através dos livros e muito menos conseguirá ser ensinado nas escolas ou nos textos de alguém que, como eu, já até tentou descrevê-lo, mas desistiu quando percebeu a complexidade e os múltiplos desdobramentos dessa fogueira interna. Eu queria poder te dizer o que de fato é esse tal de amor, mas se ainda não foi atropelado por esse turbilhão embriagante, só me resta torcer para que um dia seja e, enfim, compreenda o gosto delicioso desse torpor único. E, não se preocupe, é impossível não notá-lo: ele chega como furacão sem pedir licença e executa seu milagre – nos permite reinventar a nossa forma de enxergar o mundo. E é aí que você finalmente entende: o amor é sempre muito mais do que dizem sobre ele.