• A Brochada Feminina
  • A Brochada Feminina


    – Desculpe, não sei o que houve. Isso nunca tinha me acontecido antes.

    Saio de cima dele, com aquele pesar de quem sai de uma sessão de Lars Von Trier no cinema. Cedo-me à gravidade, desabo de bruços no colchão e afundo a cabeça no travesseiro, deveras chateada. Talvez eu devesse ter colocado menos expectativa naquela noite. Com a mão esquerda, acaricio-lhe o peito, tentando tornar aquele momento um pouco menos desconfortável. Beijo-lhe o rosto e pergunto se há alguma coisa que o perturba, acreditando que, no fundo, isso é culpa da minha barriguinha. Ah, se eu tivesse levado a sério o projeto verão 2013… Pergunto com um ar amigável, mas qualquer coisa dita no momento faz parecer um interrogatório do DOI-CODI nos idos de 1968. O clima de enterro ainda predomina – o defunto foi velado a noite inteira e não acordou, corroborando com o atestado de óbito. Então eu me levanto, desvencilho-me dos lençóis – daqueles maus lençóis – e convido-o para uma ducha despretensiosa. Ou melhor, uma ducha cujas únicas pretensões são refrescar os corpos desapontados e aliviar a tensão que toma conta do ar.

    E agora, José? Agora é abrir o chocotone sobrevivente de 2012, relaxar e aceitar que isso é normal. Sim, brochar de vez em quando é absolutamente normal e, muitas vezes, contornável. É como não conseguir fazer um gol na partida de domingo com os amigos; é como errar a letra da música naquele festival, mesmo depois de cansativos e repetidos ensaios em estúdio; é como esquecer a fórmula de Bhaskara na hora de resolver aquela equação completa de segundo grau na prova de matemática do primeiro colegial. É chato, mas acontece. Pode até ser determinante, mas acontece. E digo mais: acontece com as mulheres também. Não que tenhamos paus para erguer ou para vocês chuparem. Tampouco jamais teremos a divina oportunidade de ensaiar uma surra de pau mole na cara de ninguém – até poderíamos brincar disso com uma cinta-pinto, mas sabiamente esse tipo de pau já vem duro de fábrica.

     Por falar em fábrica, ela me serve como uma bela fonte de inspirações quando o assunto é sexo. Não para olhar uns peões suados – uma saudade -, mas sim para pontuar que o ser humano, por mais que precise e goste de sexo, não é uma máquina de transar. Por isso, está sujeito a falhas e, principalmente, à influência de fatores psicológicos, que envolvem excesso de cobrança, medo de não corresponder às expectativas, problemas pessoais e excesso de álcool. Em suma, fatores externos que não necessariamente estejam ligados ao corpo ou à presença do parceiro. No homem, o pau não sobe. É uma brochada escandalosamente física e, justamente por esse motivo, há homens que digam que ter um pinto não é tão bom quanto parece. Na mulher, por sua vez, a lubrificação não vem. É uma brochada sutil, muito mais química do que física. E igualmente ruim, justamente por causa de tamanha discrição.

    Na imensa maioria das vezes, a lubrificação é um termômetro bem fiel sobre a excitação da mulher. Portanto, a falta de lubrificação, mais do que um fator dificultante, deveria ser um fator limitador da penetração. Ela é um claro aviso de que ainda é cedo pra isso. É a plaquinha que diz “aberto a partir das 22h” quando ainda são 21h45. Portanto, quer meu conselho? Espere um pouquinho, garoto. O apressado come cru – ou cu. Se eu fosse você, em vez de socar KY por todos os orifícios íntimos da parceira ou de até mesmo tentar penetrar a força, contrariando as leis seculares do bom senso, consideraria brincar mais alguns minutos do lado de fora. Às vezes, até mesmo os percalços psicológicos podem ser vencidos com um pouco de paciência e carinho. Língua, boca, pescoço, peitos, coxas, barriga – zonas erógenas estão aí para serem usadas. Há um playground inteiro e divertidíssimo à disposição, com escorregador, tanque de areia, trepa-trepa, gira-gira, gangorra e até balanço, e você aí insistindo em entrar na casinha de bonecas?


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