Os opostos se atraem. Muita gente já ouviu o velho ditado – e muitos de nós já o usou descaradamente para justificar a atração por aquele amante incontestável do pagode – que é lindo, por sinal – mas nunca toparia ir ao show da sua banda de rock preferida.
Afinal de contas, quando estamos interessados, a atração é uma força das mais poderosas que este universo já viu. Não adianta negar, olhar na direção oposta, gastar suas infinitas horas de computador fingindo que está trabalhando. Porque eu sei a verdade. Você estava esmiuçando o Facebook do moço. (Ah, os prazeres proibidos e deliciosos de se descobrir a vida inteira do fulano através de tweets, compartilhamentos e, meus preferidos, os álbuns de fotos. Ah, o prazer de ser stalker).
A gente gosta, e ponto final. Se tudo o que você quer é se divertir um pouco, realmente, a ligação mais profunda não precisa existir. Entre dois adultos que consentem, consentido está. O problema vem quando essa paixonite divertida começa a ocupar mais os seus pensamentos – e mais grave, um dia a vizinha bonitinha se transforma na mulher mais linda desse mundo, e você está planejando o segundo mês de namoro. Aí, meu amigo, temos um problema a ser resolvido.
Relacionamentos são bastante parecidos com equações. Até dá para mexer nos elementos desde que eles combinem entre si. Estou plenamente convencida de que, do alto da minha experiência de mulher moderna nesse mundo maluco do amor, a nossa tendência é se ferrar muito se não tivermos isso em mente: escolha alguém com os mesmos valores que você. E se possível, cujos gostos não sejam assim tão divergentes.
Explico: é até divertido namorar aquele cara que não tem nada a ver. O rockeiro se você é do funk, o funkeiro se você bate cabeça no rock. Conhecer um mundo novo, descobrir aqueles filmes B dos anos 1950 que ninguém mais poderia ter te apresentado (até porque ninguém mais viu). O novo é lindo, o novo é excitante, e gente aberta para o friozinho na barriga tem mais amor à vida.
Mas, quando a gente quer embarcar de vez em um relacionamento, planejamento é uma boa. A ideia não é sair fazendo uma planilha do Excel e comparando todos os seus gostos e comportamentos com o da sua metade. O que é sempre bom ter em mente é que, em um ano, você já vai ter superado a fase excitante de exploração do mundo do outro. E aí, se vocês forem mesmo opostos, vai começar a etapa do estranhamento.
Quando o problema é o gosto diferente, o risco é ficar ressentido toda vez que é obrigado a fazer um programa que você não gosta – tipo ter que ficar em casa na sexta à noite quando a sua essência é baladeira. Quando são os valores, então, o problema é quase insuperável. Nunca entendi porque, depois da fase de exploração inicial do namoro, casais com opiniões diferentes com relação a filhos juntam os trapos. Um deles ama crianças, o outro não quer nem pensar em ter filhos. Meu amigo, você tem um problema. Porque deste tipo de coisa (assim como a maior parte de nossos valores, sonhos e aspirações) não se abre mão. Nem por você nem por ninguém.
É assim que se criam relacionamentos frustrados. Do exercício diário de abrir mão das pequenas coisas – até que as grandes também se percam pelo caminho. No primeiro dia, é só essa saída com as amigas. Depois, aquele emprego em outra cidade nem estava me deixando tão animado assim. E, no fim, anos se passaram e você enterrou coisas demais aí dentro, debaixo de um mar de mágoas contra alguém que, querendo ou não, só estava sendo ele mesmo. Opostos podem até se atrair. Mas (usando outro velho complemento a este ditado), no mundo dos relacionamentos, os iguais se mantém atraídos por mais tempo.