Dia desses ouvi uma frase interessante no rádio. A locutora dizia: “Coldplay é o rock do cara que usa sapatênis”. Você pode até discordar, seja por gostar de chorar na cama quente enquanto ouve um sonzinho meloso ou por achar que um sapatênis é sempre a escolha mais prática quando não se sabe o que calçar. Mas em uma coisa terá que concordar comigo: o mundo anda indeciso demais, e a prova disso é a quantidade de coisas híbridas que têm surgido por aí, para suprir a demanda crescente dos seres que adoram ficar em cima do muro.
Vinho misturado com cerveja, sapato que também é tênis, calça que vira bermuda, xampu que já condiciona e calçados com saltos removíveis são apenas alguns exemplos de produtos feitos para aquelas pessoas que geralmente morrem de medo das encruzilhadas. Produtos esses que, na minha humilde opinião, só deveriam ser comprados por aqueles que precisam de dois e só têm dinheiro para um. Muito em breve inventarão escova de dentes que servirá também como vibrador e revólver com a incrível funcionalidade de chapinha. O fato é que esse tipo de bizarrice inventiva sempre existirá, e o que me preocupa de verdade não é a audácia dos inventores, e sim a falta dela nos humanos que sempre pedem o mesmo prato e nunca experimentam nada novo, com medo de errar. Têm também aqueles que, quando gostam de um hotel, nunca mais têm coragem de colocar o pé em qualquer outro quarto do mundo. O que me assusta mesmo são os caras que, quando saem com uma garota, assombrados pelo medinho de errar, escolhem um pop-rock-folk-eletrônico-samba-reggae-funkadelic-motherfucker-rap para não correr o risco de descontentá-la. Tenho amigos que quando vão levar alguém ao cinema, optam por aqueles filmes de gênero indefinido, aquelas comédias dramáticas, com umas gotinhas de sangue e uma pitada de tiroteios e carros capotando. Sabe ao que me refiro?
Num mundo de tantas meias-verdades e meias-intensidades, temos que ter opinião formada e correr os riscos de desagradar, seja com a música que ouvimos no carro ou com o estilo que escolhemos para pentear o cabelo. É muito mais fácil admirar uma pessoa que tem preferências, mesmo que diferentes das nossas, do que achar graça em gente genérica que, com medo de não ser querida, tenta ser um pouco de tudo e acaba aparentando um monte de nada.
Escolha um lado, irmão. Não fique aí no meio parado me olhando com esse olhar de isopor e achando que é mais seguro ter gosto de chuchu. Demonstre aquilo que acredita e discorde daquilo que não vê futuro. Não adapte seu discurso, assim como fazem os políticos que querem agradar a todo o eleitorado.Você não precisa disso, e a cada vez que agir como o Paulo Maluf, mais bunda-mole ficará. E, se ela, o amor da sua vida, discordar da sua opinião, o que fazer? Defenda seu ponto, oras. Argumente. Não ceda achando que ela quer um namorado de tamanha “bundamolice”. No fundo, ela vai admirá-lo por ter pensamentos próprios. Você não é um “bebezão” para viver copiando o discurso alheio e para deixar sua mamãe vesti-lo. Crie seus próprios livros e saia por aí representando o time daqueles que puxam o bonde da vida.
Isso não significa que não poderá ouvir a opinião alheia e, em muitos casos, até mudar a sua. Nada disso. Só não ache que todas as suas opiniões, gostos, poesias, textos, tatuagens e piadas devem ter aceitação unânime, pois assim acabará perdendo todo o brilho, a cor, o gosto e o som. Seja especialista em alguma coisa e não faça como o pato, que voa, nada e anda, mas faz tudo mal. Nem faça como o Júnior, irmão da Sandy, que canta mal, toca mal e dança mal.
E para finalizar, parafraseando a música “Não Uso Sapato”, do nosso querido e recém-falecido Chorão, eu diria, sem pestanejar: “Eu odeio gente genérica, eu não uso sapatênis…”.
Obs.: Espero não ter ofendido a sociedade defensora do sapatênis, o fã-clube do Coldplay e a pseudo-devassa Sandy.