Dói escrever sobre dor. Dói mais ainda tentar explicar sobre prazeres que são frequentemente sabotados por antigos hábitos que cultivamos por medo de mudanças.
A vida pode ser definida e dividida (de uma maneira bem simples e sucinta) em momentos de alegrias e de tristezas. No entanto, muitos de nós acabamos deixando que pensamentos negativos e de derrota se instalem, permitindo que a dor se acostume, se aconchegue e se torne parte de nós.
Por essas e por outras resolvi compartilhar algumas dicas que me ajudam a relaxar e a entender de forma mais clara como podemos lidar com o tema em questão.
No entanto, se você estiver procurando por receitas prontas, porções mágicas, milagres divinos ou o endereço de algum estabelecimento que venda endorfina comprimida em “cápsulas da felicidade” já te encorajo a abandonar a leitura aqui mesmo. E te explico o porquê nos seis fatos que enumerei abaixo. O primeiro deles é:
1. Entender o que causa a dor, muitas vezes, não é motivo o bastante para fazer com que ela vá embora. Aprender a lidar com o sentimento – esta, sim, é uma boa arma para minimizar e conviver com o que nos incomoda. Por isso, não veja a dor e nem a trate como companheira. Mas saiba que ela é uma ótima conselheira e sempre irá nos advertir de algo.
2. A dor pela dor não há de valer em nada. Porém, dificilmente conseguimos notar, pois estamos acostumados com os nossos velhos “eu’s” – confortáveis em nossos passados, e ao mesmo tempo traçando uma relação doentia com nossas cicatrizes emocionais por não conseguirmos entender ou aceitar o que nos tornamos ao longo do anos. A dor acaba se tornando um vício; esperando apenas por uma situação ou gatilho antigos ao desencadear as mesmas neuras triviais e não resolvidas. Porém, procure pensar que a dor pela substituição do bem estar contínuo é difícil, requer paciência, mas sempre chega. Desta forma, queira estar bem.
3. Apenas os overthinkers/perfeccionistas/neuróticos e ansiosos de plantão sabem o quanto sofrem (tanto consigo mesmos, quanto na poltrona da terapia ou na conta dos antidepressivos e ansiolíticos). Eles deixam que máximas de derrota e sensações de inutilidade suguem grande parte de suas energias que poderiam ser redirecionadas a atos e hábitos saudáveis e verdadeiramente efetivos. Por isso, sempre repita o mantra em momentos de tensão ou pergunte-se honestamente: “Pensar nisso vai me levar ao lugar onde eu quero estar?”
4. Não corte os pulsos; corte pensamentos negativos. Não corte a dor; corte as vozes que teimam em querer matá-la, rejeitá-la e bloqueá-la sem entendê-la ou tranformá-la. Não corte relações; corte medos. Não corte a vida; aprenda e recortá-la e a reconstruí-la.
5. A mudança só acontece com o confronto e diálogo de nossas vozes interiores e monstrinhos de sete cabeças. Depois do embate, provavelmente iremos notar que eles não eram tão grandes e melequentos quanto nós imaginávamos. Independente do resultado, não se chicoteie; admita a emoção e cuide de si mesma(o). Simples, eficiente e consolador.
6. Essa vai para os exagerados: tem dor que não é para tanto! Às vezes, um pé na bunda, por exemplo, é o que você precisava para sair da rotina e buscar novos desafios e emoções que achou que nunca poderia voltar a sentir ou até existir. Uma (ou bem mais do que uma) rasteira ou porrada da vida faz com que você caia e se machuque. Mas não mata! (se ainda não for a sua hora, obviamente).
Já dizia o grande poeta e músico Cazuza que “quem muito exagera no sofrer, um dia acaba acreditando que ela [a dor] machuca na mesma proporção e, por fim, acaba morrendo.”
(pequeno adendo para mais dois clichês competentes: 1. o sofrimento é passageiro, a desistência é eterna. 2. a sabedoria irá bater em nossas portas, mais cedo ou mais tarde, se o otimismo e a esperança sempre forem os pensamentos finais resultantes de nossas reflexões).
Gosto da sensação de alívio ao perceber que, depois de uma árdua luta contra a não escravização da mente, a paz de espírito pode e deve prevalecer sempre dentro de nós. Basta construir novos caminhos, olhar para frente e procurar incessantemente por momentos leves, divertidos, sem arrependimentos ou fantasmas de dores já curadas. Eu ainda estou viva, e você?