Vocês romperam. Seu coração está partido em duas metades não simétricas, concentrar no trabalho é impossível, os professores parecem estar falando russo na faculdade e dói tanto, que sua mãe está a beira de te obrigar a tomar aquele xarope amargo da infância. Deixa eu te contar uma coisa, você chegou ao fundo do poço. Aquele baque que você ouviu foi seu traseiro dando com força no chão frio de pedra.
Vai doer sim. Você vai chorar, vai se debater, a tristeza será tão grande que vai alcançar seu físico, te deixar exausta e dolorida. Mas você precisa sentir, precisa colocar Adele no último volume, entornar aquela garrafa de vinho e chorar com a cara no tapete da sala, até deixá-lo encharcado.
Vai por mim, não guarda essa dor, não camufle ela, você não precisa ser forte agora, a vida tá de dando o direito de sofrer por amor, então sofra com força. O que precisa é desaguar a alma por todo um final de semana, ficar de pijama e com a cortina fechada, chorar até exorcizar essa dor de você. É hora de enterrar o passado, então por favor, permita-se enlutar, do contrário nunca vai colocar seu ex na prateleira a qual ele cabe, aquela das memórias distantes.
Já fiz muito disso, de guardar a sete chaves a tristeza, maquiar o rosto e sair sorrindo para o trabalho, enquanto meu mundo despencava da porta de casa para dentro. Foram poucos os términos em que realmente chorei. E até o mais doloroso deles, eu chorei menos que o esperado. Asseguro, foi um erro. Eu deveria ter cortado as fotos ao meio, jogado as roupas dele pela janela, quebrado alguma coisa, quem sabe um troféu ou algo parecido…(para deixar claro, não estou falando de ossos,ok!?). Deveria ter sentido no momento certo, adiar o pranto só me fez chorar dobrado e bem depois, quando achei estar curada é que a mágoa realmente se fez sentir.
Por isso, ignore o clichê. É o fim, faça um estardalhaço se quiser, chore até inchar os olhos e desinchar o coração, porque o que deve preenchê-lo são coisas boas e não mágoas. Chora garota, chora sentada no meio fio, com um pote de sorvete no colo e uma amiga dando ombro. Chora no metrô ouvindo “someone like you”, no cinema comendo pipoca caramelada, na padaria e aonde precisar chorar. E depois dessa água toda rolar pela sua camiseta dos Stones, espera com calma, a chuva uma hora para de bater na vidraça, um sol lindo se abre e você vai estar pronta para se dourar nele.
Sério, é difícil acreditar agora, ainda mais com essa música triste tocando. Mas acredite, passa de verdade, seu ex em algum momento da estrada vira um pontinho distante no mapa e você percebe que foi só mais uma curva da vida em que dobrou errado. Ou não né!? Afinal até o cara mais ninja nas “filha-da-putagens” acaba te servindo de alguma coisa, te trazendo uma lição, nem que seja apenas para constatar o tipo a ser evitado no futuro.
Portanto vai, coloca a mais melancólica das canções para tocar, pega a garrafa de vodka do seu irmão, se for o caso, sobe no sofá e canta fazendo a escova de microfone. Deixa entrar em cena a marcha fúnebre e enterra logo o defunto. Depois, recomponha-se, saia desse poço claustrofóbico, chama a galera, reza umas orações daquelas poderosas, de descarregar energia ruim, sabe? Muda o penteado, se matricula no ioga, faz aquela viagem dos sonhos e renasça para a vida. É um novo recomeço e você merece ele!