Caros leitores, a genialidade vem tomando tiros de bazuca, e a todo momento somos afrontados com invenções que nos fazem perder a fé na inteligência da humanidade. Nesse momento, você, que já não aguenta mais ouvir falar do app Lulu, agora vai ter que suportar os posts sobre o Tubby, sua revanche masculina.
Os defeitos foram tirados do armário em uma invasão inaceitável de privacidade. Viramos um guia de referências traçados por hashtags. Das mais imbecis às mais imbecis ainda. Se ela é a rainha da giratória ou se ela gosta de dar de quatro (hashtags desse tal de Tubby, reza a lenda), tente descobrir você sozinho. É aquela história: pra saber se o cara é bom de cama ou se a menina curte tanto sexo quanto você, só existe uma maneira: transar com ele ou com ela. Afinal, você veio ao mundo com um argumento no meio das pernas para que? Juro pra você que não foi apenas para fazer xixi.
As redes sociais e seus derivados, como esses aplicativos de “strip tease da intimidade”, viraram uma grande mesa de bar. O problema não é avaliar o outro, mas sim tornar isso público – e o pior – sem consentimento dele. Pare um segundo e tenha sanidade: você anda fornecendo um banco de dados da sua sexualidade para ambientes desconhecidos. O que me soa curioso, porque até agora, o grande trunfo da internet era permitir que a gente vestisse uma máscara incompatível com a vida real.
Cegado pelo hábito de postar todos os seus passos e fotografar tudo o que movimenta seus dias, você lança no mercado a nota para o triunfo ou para o fracasso alheio. E, na outra ponta, seus ex-affairs ou – pasmem – gente que nunca sequer viu a cor da sua calcinha fazem o mesmo. Porque não há como controlar se aquela avaliação realmente foi feita por alguém que já transou com você. E o pior, todos fazem isso covardemente, uma vez que essas merdas da tecnologia inútil favorecem o anonimato. Se ela é boa de cama, sussurre isso ao pé do ouvido, em vez de gritar aos sete ventos. Se o sexo não agradou, maturidade sugere uma conversa – como dois adultos. E lembre-se da regra: quem come quieto come sempre.
Se você é mulher e deu notas para seus ex no Lulu por puro e simples revanchismo, um conselho: faça terapia. Todo mundo é rejeitado nessa vida, e tomar um fora ou ser trocada por outra não é nada legal, mas também não é novidade. Acontece nas melhores famílias. Até as mais belas atrizes de Hollywood são chifradas, assim como os mais sexy atores são trocados por rapazes com metade da idade. O ser humano está sempre buscando uma razão para viver, e nos relacionamentos isso é essencial. Deu defeito, troca, mas não avacalha. Você precisa resolver essa mágoa dentro de você para a vida fluir. Não colabore com essa babaquice de Lulu. Resolva-se e parta para a outra. Deixe seus ex em paz para que você possa seguir nessa vibe. Que as “próximas vítimas” tenham o direito de desbravar o desconhecido sem o seu pitaco de ressentimento.
GENTE, a vida é muito curta para querer sempre angariar prestígio em todas as esferas, das mais elevadas socialmente aos simples aplicativos moralmente duvidosos. Somos humanos, somos complexos e não podemos ser minimizados ao jogo da velha com um conjunto de insultos ao lado. Avançar em nosso processo civilizatório e intelectual é se desapegar dessa combinação fake de “foto e nota boa nos ambientes digitais”. Mas, se você acha graça, siga em frente. Sua vida deve ser realmente muito sem propósito.
Meus pêsames.
Fecho o texto com uma frase do Edward Snowden: “Privacidade é o direito de decidir quem te conhece”. Fica a reflexão.