Ei, você aí, menina do vestido de chita rodado, flor nos cabelos, do anel de lua e estrela, que dança de pés no chão sentindo o orvalho da manhã beijar a grama do jardim. Aqui sou eu, sou você, somos nós, a mulher da saia lápis, dos cabelos recentemente moldados em cachos, do anel de lua e estrela, que caminha metodicamente pé ante pé em saltos agulhas que é pra tocar cada vez menos o chão da realidade. Eu só queria dizer que você vai mudar, o mundo vai mudar e as perspectivas vão mudar. Na verdade, as prioridades se invertem, e aquilo que antes era demasiadamente excruciante, hoje não faz nem cosquinha na alma da gente. Eu, você, as pessoas, os sentimentos, as situações, tudo está em constante mudança, e quando a gente é adolescente tudo parece mais rápido e abstrato do que realmente é. Quisera eu saber disso antes dos passos caminhados. Será preciso cair, levantar, tropeçar, escorregar, cair de novo, tentar mais uma vez e quantas forem necessárias para saciar aquilo que se costuma chamar viver. Terá anseio, receio, atino, desatino, terá bolo, haverá tempo. Ainda há, só que o carnaval dos hormônios joviais está agora fantasiado de experiência. O medo não deixa de ser medo, a ansiedade ainda se chama ansiedade. A abordagem que é agora é outra. E a travessia também.
Se eu pudesse dar um conselho a você, pequena menina confusa, perdida, do olhar cheio de resquícios daquilo que ela cuidadosamente chamaria de solidão, seria: respire. O mundo de fato não espera por você, mas você, sim, deve esperar pelo mundo. As coisas chegam prontas no momento exato em que são precisas, e não exatamente quando você quer. Nem toda dor é a maior do mundo e fatalmente tudo passa, mesmo quando o coração parece querer sair pela boca e retumbar por si só o tamanho daquela saudade. Não sofra antecipadamente. As pessoas, as situações, os sentimentos, nunca estão terminados. Dê espaço para algumas reticências, vírgulas e saiba entender um ponto final de coração tranquilo. Respire. Se quiser ir, vá. Nada no mundo é pior do que perder uma oportunidade que poderia mudar o rumo de tudo. O sentimento ainda estará lá quando você acordar, mas esfriar a cabeça antes de bater o pé impulsivamente aumenta em 90% as chances de uma escolha acertada ou, pelo menos, de um erro fundamentalmente coerente. Sim, errar conscientemente faz parte do processo, afinal de contas, foi graças a tantos tombos afobados e tropeços que mais pareciam quedas de abismos que hoje você é a mulher que se orgulha de ser. De nada adianta essa ansiedade e essa sede incontrolável de prever o amanhã, o depois, os próximos minutos. Tudo pode mudar no infinito de um segundo. O que me leva a outra questão: responda a mensagem, atenda ao telefone, chame pra sair, diga que gosta, que odeia, que sente, que precisa, diga qualquer coisa, para depois não se arrepender do seu silêncio. Respire. Comemore as vitórias, mesmo que sejam pequenas e delicadas. E, acredite, as pessoas que se importam permanecem, apesar de. Simples assim.
Hoje, refletidos no espelho da janela, as ruguinhas e o metabolismo não mais tão acelerado me abraçam delicadamente, na lembrança de que o tempo inevitavelmente passou. Mas aquele sorriso bom de quem carrega na bagagem pessoas, olhares, abraços, finais, recomeços e 27 anos de saudades muito bem vividas, esse permaneceu. Se eu tivesse a oportunidade de transmitir a você, essa minha versão imatura e inexperiente de alguns bons anos atrás, todas essas delicadezas que o tempo me ensinou, eu simplesmente me calaria. Saber mais sobre a vida, os caminhos, as escolhas, de fato me pouparia uma dose considerável de tempo e dor de cabeça. Contudo, tiraria de mim e de você a magia da metamorfose, o sentido de agora estar aqui respirando: viver. Meu conselho para essa lagarta adolescente em mutação dentro de cada um: desabroche borboleta e deixe suas próprias asas descobrirem o caminho tortuoso para o lado de fora. Desabroche e deixe suas frágeis asinhas te ensinarem a voar. Menina do vestido rodado e do anel de lua e estrela, faça tudo novo e de novo. Eu estou tirando os saltos e sentindo os beijos do universo numa dança que pode durar a vida inteira. Porque no fim, o que fica é o quanto aquilo nos fez sentir. E só.