Emagrecer 20 quilos em duas semanas é fácil. Perder toda a gordura da barriga sem um único abdominal é mais simples ainda. Aquele seu ex por quem você ainda é apaixonada está ignorando as suas mensagens implorando por um revival? É porque ele está tão louco por você que não sabe lidar com seus sentimentos, só isso! E você aí achando que aquela loira com quem ele vive postando fotos no Instagram veio pra ficar!
Se as revistas femininas pudessem conversar com você, é assim que elas te tratariam. Subestimando sua inteligência, sua experiência, seu conhecimento sobre o mundo, tudo o que você já passou na vida. Como uma porta, basicamente. E de quem é a culpa disso? De nós todas. Nós, jornalistas (minha classe profissional no caso – desculpe. desculpe mesmo), e nós leitoras. Mas especialmente da sociedade que produz tudo isso.
Quer saber qual é a desculpa principal das revistas femininas para publicar tanta baboseira disfarçada de receita milagrosa? “É isso que as mulheres querem ler”. Ou, então, o clássico: “Toda vez que tem dieta na capa as vendas aumentam”. E crescem mesmo, desesperadamente. Quase como se cada uma de nós gritasse em uníssono, assim que lê uma dessas manchetes: “Shut up and take my money!”
Aí é que a responsabilidade é um pouquinho da gente também. Por nos deixarmos influenciar por todas estas manchetes, por ainda comprarmos conteúdo que nos trata como se fossemos bonecas infláveis – sem senso crítico e/ou polegares opositores. Mas vou nos eximir só um tantinho dessa culpa também: nós fomos programadas para isso.
Desde pequenas, o mundo nos entucha goela abaixo que o bonito é ser daquele jeito, como a mulher da capa da revista, hoje mais tratadas e photoshopadas do que nunca antes na história desta mídia. Se somos mulheres, que cumpramos, pois, a nossa principal missão neste mundo como tal: decorá-lo! Mulheres que não são magras, maquiadas, delineadas, turbinadas, falharam com o mundo, falharam como fêmeas que são.
Logo, como não entender que existe uma população inteira de nós por aí que está simplesmente agindo sob a batuta do completo desespero? Como não entender que somos todas oásis ambulantes, oportunidades milagrosas de contento e resultados para vendedores de shakes emagrecedores? E como não entender que cada manchete de dieta ou de “faça ele esquecer a ex na cama” não provoquem a nossa imediata corrida para as bancas de jornal?
Tudo muito lindo, tudo muito compreensível. Mas, depois de reconhecer o processo, fico pensando se não seria hora de tentarmos estratégias mais agressivas para nos libertarmos dele. Não estou sugerindo gigantescas fogueiras feitas com páginas estraçalhadas de revistas femininas, a cara da Gisele Bundchen queimando à luz das chamas. Ou estou? Talvez devêssemos queimar estas matérias junto com as calorias. Aí sim ficaríamos bem mais leves para o verão.
