Esses dias minha amiga Bruna (que você deve conhecer, pois é colunista aqui no CSV) me disse que tirou uma porção de fotos 3×4 e só depois percebeu que estavam tortas e que o cabelo dela estava bagunçado e esquisito. Ela precisava urgentemente das fotos, mas ia usar só duas, e as outras provavelmente iriam para o lixo. Então ela me perguntou: “o que eu vou fazer com esse monte de foto minha?” e eu disse imediatamente “espalhe por aí!” e foi assim que a ideia desse texto nasceu. Não era simplesmente uma tentativa de dar um fim nas fotos da Bruna, mas sim de usar uma coisa banal como um 3×4 como forma de mudar o dia de alguém – e acredite: isso muda!
Disse para ela escrever alguma coisa do tipo “para você, com amor, Bruna”, ou “bom dia, meu amor” e botar as fotinhos nas janelas do metrô, em orelhões, qualquer lugar simples onde passe muita gente. Ela nunca vai saber quem pegou a foto, mas é um fato que vai arrancar, no mínimo, um sorriso de um estranho. E esse é o ponto: arrancar um sorriso de um estranho anonimamente. A gente reserva um pedaço do nosso coração pra fazer caridade, pra doar coisas que vão servir mais para outras pessoas do que para nós, para ser solidário e tudo isso é louvável. Mas não é necessário sempre fazer “caridade” para fazer alguém feliz, ou para mostrar que essa pessoa é amada, ou que existe alguém disposto a fazê-la se sentir melhor, mesmo que por alguns segundos.
Depois disso fiquei pensando em outras maneiras de interagir e fazer bem para pessoas alheias de uma maneira anônima, sem esperar reação, reconhecimento ou coisa do gênero. Me peguei perdido nas minhas questões complexas e que não têm resposta fácil. “O que eu vou fazer com a minha vida?”, “quem vou ser eu daqui 5 anos?”, “quais são meus verdadeiros sonhos?”, “quem sou eu?”, o que eu estou fazendo para ser alguém melhor para mim mesmo?” e por aí vai. Então decidi que escreveria essas perguntas em post-its e colaria por aí. É claro que ninguém vai me ligar pra me dar uma resposta, mas ao menos eu saberei que não vou estar sozinho na busca pela solução dessas questões. Quanto mais perguntas eu espalhar, mais chances eu tenho de um dia achar a resposta, mesmo que ela chegue assim, sem querer e sem autor.
Aí fiquei pensando nessa coisa de viver numa cidade super-ultra-mega-hiper-master-blaster cheia de gente e constantemente existir um suave sentimento de solidão pairando no ar. Então decidi que uma boa maneira de ao menos EU não me sentir tão só era interagir com pessoas. E com a minha interação essas pessoas também não se sentiriam sozinhas e passariam a ideia para frente. Então decidi que daria bom dia/tarde/noite para um estranho por dia. Coisa simples, tipo cruzar com alguém e dar bom dia sem esperar ouvir nada em troca, ou sentar do lado de alguém no metrô e, na hora de descer, desejar um “bom trabalho” com um sorriso sincero. Aposto que isso muda o dia de qualquer um. Mudaria o meu, ao menos!
Por fim pensei sobre os inimigos anônimos que todos os dias se odeiam e nem sabem o motivo. Taxistas e motoboys, motoristas de ônibus e pedestres, policiais e artistas de rua, motoristas e ciclistas. Deve existir uma maneira de eles coexistirem com um pouco menos de tensão. Imaginei o farol fechado no cruzamento caótico da Brigadeiro com a Paulista – um dos campeões de atropelamentos e estresse do Brasil – e pensei num ciclista parado ao lado de um carro e, ao invés de ambos olharem para o farol ansiosos, se desejarem bom dia. Ou quem sabe o motorista oferecer a vantagem para o ciclista sair antes, ou mesmo um taxista fazendo um sinal de “paz e amor” para um motoboy com aqueles adesivos da Jamaica na luz de freio, ou um motorista de ônibus que cumprimenta sem passageiros, enfim… pode ser utopia da minha parte, mas eu acredito que de maneira passiva sem exigir quase nenhum esforço nós podemos espalhar mais amor por aí, fazer as pessoas se gostarem mais, se respeitarem mais e, no fim de tudo, serem felizes, que é o que importa. Por isso, se você mora em São Paulo, fique atento, você pode encontrar uma pergunta, uma foto ou mesmo ganhar um “bom dia!” animado meu na rua. Nos vemos por aí!