Em um universo paralelo que só passou a existir quando minha cabeça deu conta de inventá-lo (há cerca de dez minutos), pessoas são vendidas em supermercados próprios para esse tipo de compra. Muito grande esse estabelecimento é dividido em diversas fileiras com as mais variadas denominações. Suas demarcações, porém, não se caracterizam por aspectos físicos – peso, altura, cor dos olhos ou qualquer outra particularidades corporal. As pessoas procuram especificamente o que está dentro, como se relações humanas fossem uma ciência exata, que pode ser medida e quantificada.
Esse é o universo mais chato que já criei – e não foram poucos.
Minha geração (Y, para especificar e me dar conta que devo ser atualmente o colunista mais jovem do Casal Sem Vergonha) parece determinada a viver sob objetivos inatingíveis e com o mínimo de esforço para consegui-los – o que nos torna, cada vez mais, pessoas frustradas. Desejamos todas as conquistas possíveis, desde que elas venham a nós, e não o contrário.
Sinto, muitas vezes, que há uma desvalorização cada vez maior da jornada, do caminho percorrido até nossa pretendida vitória. E isso começa a influenciar cada vez mais na maneira como nos relacionamos.
Tenho grandes amigos que cortam pela raiz possíveis amores antes mesmo que eles tenham chance de florescer. Preocupados demais em olhar os pequenos problemas (que se tornam imensos diante de olhos pessimistas e preguiçosos), deixam de lado todas as incríveis possibilidades contidas no encontro de duas pessoas que se desejam.
Quem percebeu e se incomodou com o fato desse texto ainda não ter chegado em seu argumento principal (“encontre uma namorada que…”) precisa – repito – parar de se preocupar com o objetivo e dar atenção e carinho ao caminho percorrido. Até porque geralmente você não sabe o que (quem) deseja até que a pessoa aparece na sua frente (ou, citando Pitty e minha pré-adolescência, você se dar conta que “ela estava ali o tempo todo, só você não viu”).
Se há alguma somatória de fatores que podem influenciar em uma boa relação, ela não está naquilo que você vê no espelho ou nas páginas que a pessoa curte no Facebook. Você só vai saber de verdade se um namoro vale a pena quando parar de criar barreiras e simplesmente tentar. Ainda assim, se você não está convencido e precisa de uma resposta, coloco de lado os parágrafos acima por alguns instantes para compartilhar, por experiência própria, minha fórmula mágica: sintonia.
Todo mundo conhece aquelas duas pessoas que parecem ter nascido uma para a outra. Que no papel parecem funcionar como Brad Pitt e Angelina Jolie/Rose e Jack/queijo e goiabada, mas não deram certo. Das duas, uma: ou não havia sintonia ou não tentaram o suficiente.
Você pode pensar que “Sintonia é uma coisa que muda, Lucas!” e, justamente por causa disso, é preciso arriscar. Uma relação pode começar sem sintonia, encontrá-la e durar até o fim da vida. Pode mudar depois de seis meses (ou seis semanas) e acabar. Você irá seguir um caminho diferente, conhecer outras pessoas e tentar de novo, mas terá saído de todas essas relações com algo muito mais valioso que o resultado: aprenderá mais sobre outras pessoas e você mesmo. A cada erro irá entender melhor como sua sintonia funciona e como identificar melhor pessoas que vivem numa realidade parecida com a sua.E, ainda que o final do filme não se desenvolva do jeito que você quis, garanto que todas as cenas protagonizadas por você antes disso valerão muito mais que o ingresso para o cinema – ou a ida ao supermercado-humano mais próximo.