• Por que a indústria pornográfica pensa que  nós, mulheres, não existimos?
  • Por que a indústria pornográfica pensa que


    nós, mulheres, não existimos?


    Antes de mais nada, uma confissão: eu vejo pornô. E não é pouco.  A sua amiga vê, a sua namorada vê, sua prima pré-adolescente, sua colega de trabalho, sua irmã mais nova. Arrisco dizer que até sua mãe vê – ou, na pior das hipóteses, já viu alguma vez na vida.

    Dito isto, preciso dizer que não deveria ser uma confissão – só um comentário despretensioso,  como os comentários que os homens fazem na roda de amigos. Não deveria ser esse estardalhaço. Haveria de ser simples assim: eu vejo pornô. Ponto. Mas não, nada é tão simples para nós, mulheres. Sempre que uma mulher confessa isso, ouve (de um amigo, uma amiga, do namorado ou de quem quer que seja) : – Huuuummmm. Danadinha, hein?  Como se fosse anormal, estupendo, inacreditável.

    De fato, é tão inacreditável – embora de fato não devesse ser – que nem a indústria pornográfica acredita. Agem, estupidamente, como se nós mulheres não existíssemos. Logo nós, um público tão fiel, somos ignoradas por nove entre dez sites pornô.

    Se não acredita, preste atenção em como a mulher é representada nos odiosos filminhos de putaria produzidos em estúdio: a mulher coisificada, que se importa mais em dar prazer do que em sentir. A mulher, muitas vezes, violentada,  subjulgada. A mulher gostosa e irritantemente passiva. A vadia insaciável e que sacia todas as fantasias do espectador.

    Se ainda assim não acredita, leia os anúncios luminosos que aparecem em todo site pornô que se preze: “Mulheres safadas na sua região.” “Fulaninha foi traída e quer se vingar.” “Mães solteiras precisam de pau.” “Sua esposa nunca vai saber.” Mais uma vez, a  mulher é um produto. Um objeto que proporciona prazer, antes de um sujeito que SENTE prazer. Mais uma vez, somos ignoradas, até mesmo pelos anúncios, que deveriam se interessar por TODO público que acesse esses portais.

    Mas eu nunca vi – se existe, me corrija – um anúncio direcionado ao público feminino, tipo “homens solteiros na sua região” ou “pais solteiros precisam de boceta.” Esses anúncios simplesmente não existem, por que se parte do pressuposto de que nós não estamos interessadas. Mulheres não estão procurando sexo – estão em casa, esperando passivamente pelo patriarcado. Mulheres não se masturbam, não acessam putaria e não tomam a iniciativa.

    O pior disso tudo é que não consigo acreditar que toda uma indústria – que faz publicidade, inclusive, baseada em pesquisas – não saiba qual público acessa o seu conteúdo. O pior é que sabem – mas se negam a confessar. Seguem nos ignorando e nos subestimando, como se – coitados! – isso pudesse conter o nosso orgasmo.

    A boa notícia é que já existe uma indústria pornográfica interessada em nós, no nosso prazer. Felizmente, estamos cada vez mais perto de sermos vistas como consumidoras de sexo, capazes de sentir e de buscar prazer. Podemos – a duras penas – nos livrar de nossas amarras e promover a revolução sexual que queremos ver.


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