Ela já deu as caras por aqui num texto que foi um dos mais lidos do site durante um tempo. Primeiro, aprendemos muitas coisas com a bunda de Scarlett Johansson, e agora ela vem nos ensinar uma lição com sua nudez.
A nova polêmica começou quando Scarlett apareceu como veio ao mundo em cenas de seu novo filme (Under The Skin), e teve feedbacks dos mais variados. Dentre os mais absurdos, surgiram comentários nas redes sociais do tipo: “esperava mais dela“, “ela não é grandes coisas”, “tá fraquinha, hein?”, teve gente que até ousou chamá-la de “gorda“. Por um outro lado, ela, mais uma vez, deu esperanças àqueles que, assim como eu, ainda preferem a beleza natural da mulher – aquela que, para ser alcançada, não exige o levantamento de toneladas no leg press ou a utilização do Photoshop, e que, apesar de causar enfartes e sonhos molhados, não é comumente vista em capas de revista, outdoors ou nas passarelas da Fashion Week.
Sempre que me pedem para dizer um exemplo de mulher bonita, sem hesitar, eu cito a Scarlett. E agora, depois de vê-la e revê-la nua, continuarei, ainda com mais certeza, a mencioná-la como o meu maior amor platônico. O que ela tem de mais? Por que eu a admiro mais do que as obras do Dalí? Porque ela não segue as curvas – ou a falta delas – do padrão estético imposto pela indústria da moda e, mesmo assim – sem se render à magreza que mais se parece com doença e sem demonstrar medo de expor as gordurinhas abdominais -, consegue tirar o fôlego de homens e de mulheres por onde passa.
Ao contrário de muitas pessoas que, assim que viram as fotos da Scarlett peladona, provavelmente por inveja, falaram que “ela não é tudo isso que dizem por aí” e que “ela não passa de uma mulher normal”, eu faço questão de reforçar a minha admiração por ela: para mim, ela é SIM tudo isso (linda, tesuda, bonita e “gostosuda”), e é assim justamente por não lutar contra a normalidade, como outras bilhões têm feito – sem se importarem com a saúde e buscando, de maneira doentia, um padrão estético construído pela soma de exageros. Ela (a Scarlett) é foda por não querer ultrapassar os limites do próprio biótipo e por dar mais valor ao charme do que à porcentagem de gordura corporal. Ela é a prova viva de que não há abdômen de tanquinho capaz de superar o poder que charme tem. Você até pode ter celulites, mas se também tiver uma boa dose de charme, ninguém as notará. Mas se não tiver um pingo de charme, acredite: de nada adiantará malhar a bunda.
Não adianta, mesmo que continuem a aparecer em meio às notícias mais lidas do globo.com, eu nunca vou me acostumar àquelas coxas que mais parecem troncos de árvore e àqueles peitões que muito se assemelham a bexigas à beira de um estouro. Aliás, sempre fui apaixonado pela beleza das mulheres da década de 1960, que realmente tinham onde pegar. Elas não tomavam whey protein (o novo Toddy) e aposto que, nunca, nem às segundas-feiras, recusavam uma porção de fritas coberta com cheddar e bacon. Digo o mesmo da Scarlett. Tem como não amá-las?
Tudo o que eu disse nos parágrafos anteriores, antes que eu apanhe de alguém que come dezoito claras de ovo no lanche da tarde, não passa do meu gosto pessoal e, se você se sente bem com coxas que já não cabem mais em calças jeans sem strech e sofrendo a cada vez que sua porcentagem de gordura corporal passa de 10%, contanto que não coloque a sua saúde em risco para alcançar tais resultados, continue assim e saiba que muitos outros, para a sua sorte, pensam diferente de mim e estão loucos, ansiosos, por uma chave de coxa inescapável.
Porém, o que realmente me incomoda nesse papo todo e o que me parece questão que vai além do simples gosto pessoal, é que bem agora – em meio à luta crescente para que diversidade da beleza não seja reduzida somente a um padrão (magrela, branca, alta, nariz fino, cabelos lisos) -, um número considerável de pessoas estranharam, como se o natural fosse algum absurdo, o fato de uma celebridade não ter vergonha de mostrar que tem um corpo normal e que contém, como a maioria das terráqueas, gordurinhas na barriga. Estranho mesmo é achar que as atrizes, só por serem atrizes, são diferentes de nós: pessoas normais. O mesmo estranhamento também aconteceu quando a Revista People anunciou que escolheu, como a mulher mais sexy de 2014, a atriz Lupita (já falamos dela aqui também), muito por causa do discurso inspirador sobre beleza que ela deu no Oscar:
E mais estranho foi perceber que grande parte das pessoas que questionaram a beleza da Scarlett por ela não seguir o padrão da moda atual no Brasil, foram mulheres. Bem elas, que lutam diariamente para derrubar os padrões de beleza impostos pela mídia, criticaram, quando na verdade deveriam ter ovacionado moça por ela, com essa atitude, levantar uma bandeira subjetivamente quer dizer: “Façam o que quiser com os padrões de vocês. Eu quero mais é ser feliz.”
Até respeito o gosto – bem diferente do meu – das pessoas que não acham a Lupita nada de mais e que consideram a Scarlett apenas uma mocinha “comunzinha”, porém, faço questão de afirmar: precisamos repensar, de maneira imparcial e sem medo da verdade, se aquilo que achamos que é nosso gosto pessoal, na verdade, não passa de um gosto que vem sendo, de capa de revista em capa de revista, universalizado a ponto de confundirmos o “normal” com o “imperfeito” e de acharmos que saúde pode ser vista no espelho.
Por fim, informo que eu consegui uma entrevista exclusiva com ela e, de tudo que ela me contou, algumas coisas precisam ser repassadas ao mundo: ela me disse que a música preferida dela é “Beijinho no Ombro”, ela me informou que “lepo lepo” gostoso independe da porcentagem de gordura corporal e afirmou, com todas as letras, que já comeu dezoito pedaços de pizza em um rodízio.
É para casar ou não é?