• O mundo acabou e ninguém percebeu
  • O mundo acabou e ninguém percebeu


    Sérgio Malandro está na tv. O papa renunciou. Abri a janela e tinha geado. São Paulo, maio, depois de um dia de sol. Faltam três semanas para a copa e, no país do futebol, não se vê uma bandeirinha na janela. No primeiro Big Brother, lembro de fechar os olhos e pensar o que eu faria com um milhão de reais. Hoje qualquer apartamento custa um milhão e esse país de milionários para quando tem greve de ônibus.

    “Tem alguma coisa muito estranha”, comentei com um amigo. Ele se inclinou em minha direção e me deu o diagnóstico como quem conta um segredo.

    – Lembra, em 2012, quando diziam que diziam que o mundo ia acabar?
    Pois é.

    Ele não precisou mais explicar. O que eu esperava? Um dilúvio? Repensei minhas hipóteses para o dia do apocalipse e me achei ingênua em minhas expectativas. Esperava um fim do mundo barulhento como nos filmes de ação, explosões estilo 11 de setembro e uma pane geral dos computadores. Mas o mundo acabou e a gente ficou aqui.

    Morreram: os telefones fixos, as videolocadoras, as TVs de tubo, os dicionários de bolso, os filmes de 12, 24 e 36 poses. Morreram os bailes debutante, as famílias margarina, o glamour das viagens de avião. Nasceram as tomadas brasileiras. As pilhas sobreviveram a contragosto. O yakult se manteve firme e forte com suas garrafinhas sempre menores que a minha vontade. A hierarquia ficou fora de moda. O sonho americano caducou.

    Abrimos a nossa vida, compartilhamos intimidades, travamos a porta do carro antes de colocar o cinto. Mudaram umas coisas importantes, como a divisão entre país rico e pobre, a nossa noção de clima, de sexo como determinante de sexualidade. O tédio foi substituído por um fuzuê de novidades e ficou tudo tão rápido que hoje eu não tenho paciência pra fritar um bife.

    Nesses últimos anos, repensamos a família, o significado do trabalho, os relacionamentos. Todos os dias, olho para as pessoas no metrô, com olhos concentrados e polegares ativos, e não me resta nenhuma dúvida de que enterramos o mundo como se conhecia. O que vem por aí é imprevisível e é inútil adivinhar. Pensando bem, já que o mundo acabou mesmo, não tem mais por que se preocupar tanto. Semana passada, por exemplo, fui pra balada de polaina.


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