• A mulher que você não quer ser
  • A mulher que você não quer ser


    Pode até ser pretensioso querer supor a mulher que você quer (e, sobretudo, a que não quer) ser. Mas é que meu lado escritora sobrevive muito mais da arte de observar do que da expressão em si – e nessas minhas ‘observânças’ tenho visto todo tipo de esquisitice, com a clareza de quem se dedica a uma análise minuciosa do comportamento alheio – como se isso lhe dissesse respeito – e ainda faz disto uma profissão.

    A mulher que você não quer ser faz questão de ser insossa. Eu poderia dizer neutra, mas insossa é a palavra. Ela nunca quer nada, nunca acha nada, nunca opina sobre nada e nunca discorda de nada – é um verdadeiro objeto de decoração, a repetir incansavelmente o quanto está tudo maravilhosamente ótimo e o quanto seus homens são sensacionais. Seu prato preferido é o prato que seu companheiro gosta, seu programa preferido é o que melhor convém à sua relação, e seus amigos são os amigos dele. Ela simplesmente não é absolutamente nada sozinha. E, depois disso, ela quer ser admirada – mas como admirar algo que, ao menos no plano da realidade, sequer chegou a existir?

    Ela esconde quem de fato é para incorporar a personalidade que lhe deixa confortável diante de sua relação amorosa: por exemplo, a mulher promíscua que forja uma ingenuidade pateticamente inexistente quando lhe convém, ou – porque a recíproca é quase sempre verdadeira – a mulher ingênua e inexperiente que se transforma na rainha do sex appeal se isso for do agrado do homem que lhe interessa.

    E isto, em geral, retrata uma nítida insegurança que a coloca em um lugar de constante desvantagem: torna-se uma mulher terrivelmente manipulável. Esta mulher, provavelmente, encontrará relações estáveis – mas dificilmente encantará alguém verdadeiramente. Porque só o que é genuíno é capaz de encantar.

    Esta é a mesma mulher que faz questão de ser “a namorada chatinha” quando poderia escolher tornar-se a companheira engraçada e de bem com a vida. Aquela que topa programas de última hora e sabe aproveitar o melhor da vida em vez de planejar uma conduta perfeita e acabar se tornando a personificação do tédio. Abdica de si mesma – sem que, absolutamente, ninguém lhe peça isto – e depois se ocupa em destilar a própria amargura.

    Estas costumam ser as mesmas mulheres que abdicam de seus hobbys em nome de uma relação e depois culpam seus companheiros pelo próprio erro. É aquela que sente ciúmes dos amigos do namorado, leva flores pra a sogra e mantém, impecavelmente, uma máscara de boa moça que acredita ser o seu passaporte para tornar-se a queridinha de todos, sem sequer desconfiar o quanto tudo isso a torna indesejável. Aquela que não respeita o próprio espaço e muito menos o espaço alheio, e se sufoca diante de seus próprios exageros.

    A mulher que não nota o muxoxo entediado do namorado enquanto faz voz de bebê e se dispõe a fazer seu prato predileto e uma massagem nos seus pés, quando poderia ser muito mais – e muito mais facilmente – amada só com um papo interessante, uma companhia divertida, uma personalidade que valha a pena conhecer. Sem precisar fazer das tripas coração para agradar ao outro – porque, agradando a si mesma, agradar aos outros é uma inevitável conseqüência.

    É a mulher que ainda não se descobriu porque está ocupada demais descobrindo aos outros. É a mulher que – espero, sinceramente – você não é. E, aposto! Você não quer ser.

    ass-nathalie


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