• 5 séries maneiras que colocam  a mulher no seu devido lugar
  • 5 séries maneiras que colocam


    a mulher no seu devido lugar


    Depois que comecei a entrar em contato com ideais do feminismo, pude notar um fato interessante acontecer comigo: assim como o garotinho de O Sexto Sentido, que via gente morta a toda hora, também passei a enxergar o machismo a todo o momento e em várias situações que antes passavam despercebidas. Foi como ligar uma chavinha no meu cérebro: assim que o alarme apitava eu fui perdendo o interesse por vários filmes, séries e programas que antes achava super bacanas, ao me dar conta das várias piadinhas machistas ou personagens estereotipados que não me acrescentavam nada (bo-ring!).

    Você pode até achar que eu estou exagerando, mas fato é que o machismo ainda impera na indústria de entretenimento e bate na tecla de uma representação feminina desgastada e danificada. Duvida? Quantos filmes você consegue citar em 1 minuto que: 1) Tenha, no mínimo, duas mulheres com NOMES. 2) As mulheres conversam uma com a outra. 3) Sobre alguma coisa que não seja um homem. Então pense em filmes que tenham homens, com nomes, conversando uns com os outros sobre algo que não seja uma mulher? Esse questionário se chama Teste de Bechdel e ajuda a medir como anda a presença de personagens femininos nessas produções e o quão completo esse papel é. Parece simples e até besta imaginar que algum filme seria reprovado nessas perguntas tão básicas – afinal, que realidade paralela é essa em que as mulheres não teriam outros interesses a não ser conversar sobre homens? -, mas, não é preciso muito esforço pra ver que grandes sucessos de bilheterias recentes como: Homem de Aço, Avatar, Universidade Monstros, Velozes e Furiosos 6, A Rede Social, Quem Quer ser um Milionário e Meia Noite em Paris falham no teste.

    Na maioria das produções de cultura de massa (como filmes hollywoodianas e novelas, tipo a última das nove que foi exibida pela Globo), as personagens femininas são relegadas a papéis secundários, de auxiliar o protagonista masculino em sua saga de heroi, a menos que o filme seja obviamente direcionado às mulheres – e muitas vezes nem assim passam no teste, pois as personagens femininas ficam o tempo inteiro falando de homens. Suas participações geralmente servem para reforçar estereótipos – a mocinha, a periguete, a invejosa, a inimiga, a barraqueira, a perua – e a trama gera em torno de um macho alfa. Aliás, é gritante o papel de protagonista que é dado aos homens na vida das mulheres, principalmente às mais felizes, pois é imposto à mulher a ideia de que sua relação com um homem é o que vai ser determinante para sua felicidade.

    Mas também tem muita coisa legal sendo produzida (quando Bechdel criou esse teste não vivíamos o boom das séries atuais!). Há séries que, não necessariamente mostram queimas de soutiens, mas privilegiam as vozes e os pontos de vista femininos de uma maneira que é dificilmente vista nos meios de entretenimento populares. Além de colocar a mulher como protagonista, provocam discussões pertinentes ou trazem personagens femininas como heroínas fodonas que chutam longe estereótipos desgastados. Resolvi mostrar para vocês uma lista com séries atuais que amo e que passam com louvor no teste Bechdel.

    1- Masters of Sex

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    Baseada no livro de Thomas Maier, Masters of Sex é uma série incrível que acompanha a vida e os trabalhos do Dr. William Masters e de Virginia Johnson (praticamente uma bandeira feminista ambulante) que realizaram entre as décadas de 1950 e 1970 pesquisas sobre o comportamento sexual do ser humano. O trabalho revolucionário da dupla gerou polêmica, mas contribuiu com o entendimento dos cientistas e do público sobre o funcionamento do corpo humano. Além de explorar a questão da sexualidade feminina – como falar sobre mulheres com mais de 50 anos que NUNCA tiveram um orgasmo ou questionar porque mulheres fingem orgasmos -, a série também aborda homossexualidade, prostituição, masturbação, sexismo… É inevitável se questionar: por que um seriado sobre a repressão sexual e a ignorância dos anos 50 parece tão atual? Porque a sexualidade feminina ainda é repreendida e cercada de ignorância – isso me faz lembrar de fatos banais, como a Apple permitir que você escreva em seu iPad “pênis”, mas proibir “vagina” ou “clitóris”. Masters of Sex não é apenas sobre sexo, porque o sexo não é apenas sexo. É praticamente um mergulho sobre como conhecemos nós mesmos e sobre o quão confortável nos sentimos em nossa pele. E tudo isso através de perspectivas femininas bem interessantes.

    2- Orange is the New Black

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    Uma prisão cheia de mulheres. O que elas têm em comum com você? Muito mais do que qualquer Helena do Maneco. Orange is the New Black trouxe o protagonismo feminino para as telas: brancas, negras, latinas, cissexuais, transsexuais, heterossexuais, homossexuais, gordas, magras, idosas e jovens. Mulheres de verdade invadindo a sua programação habitual, com direito a rugas, pelancas, gordurinhas, celulite, estria, cabelo desgrenhado e toda outra qualquer peculiaridade que as revistas femininas lutam pra esconder em suas capas e fingir que não existe. Além de divertida, a série é educativa: em um dos episódios as personagens se questionam sobre a anatomia da vagina: “qual é o buraco por onde sai o xixi mesmo?”. É preciso uma das detentas (a única transsexual do presídio, aliás essa é a primeira série popular a mostrar uma atriz trans no papel de um personagem trans) tirar as dúvidas das meninas com uma aula básica sobre a genitália feminina. A série tem várias cenas memoráveis, como uma personagem usando uma chave de fenda pra se masturbar e a competição entre duas detentas pra ver quem consegue pegar o maior número de mulheres.

    3- Girls

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    É tipo Sex and The City. Foi o que eu pensei à priori, mas na real é muito melhor que Sex and The City. Se o primeiro mostrava o cotidiano glamoroso de quatro amigas bem sucedidas vivendo em Nova York, Girls mostra quatro amigas em plena crise dos vinte e pouco anos, que saíram da casa dos pais mas ainda não sabem o que querem da vida, sem carreira, sem dinheiro, sem namorado, trampando em algum muquifo no Brooklin pra juntar a grana do aluguel que divide com a roomie que você ama, mas que no momento você tá puta pois numa madrugada de altas biritas e carência emocional ela pegou seu ex-namorado que se assumiu gay. UFA! Confuso e complicado, mas duvido que você não vá achar nem uma semelhança com alguma das personagens, e vai amar se identificar com a tal personagem, e vai odiar essa identificação porque além das qualidades, a série expõe muitos defeitos que preferíamos manter sob sigilo. A série é escrita, dirigida e protagonizada por Lena Duham que adora desafiar as normas da sociedade sobre sexo exibindo seu corpo nu e fora dos padrões de beleza em quase todo o episódio. Tem gente que acha que a Lena passa muito tempo pelada em cena, eu acho que ela apenas quer reforçar que, na vida real, nem todo mundo nasce que nem uma top model mas, mesmo assim, muita gente gosta de andar pelado em casa.

    4- Mad Men

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    Logo que comecei a ver Mad Men, pensei que ia ter dificuldades em tolerar o teor de machismo dos episódios, já que a realidade para uma mulher nos anos 50 em um escritório de publicidade na Madison Avenue deveria ser no mínimo opressora. Mas, enquanto ao longo das temporadas foi apresentado os altos e baixos de Don Drapper, assistimos somente à ascensão de Peggy Olson. Apesar de o cenário sexista continuar o mesmo, Mad Men apresenta personagens femininas fortes e contestadoras: Peggy e Joan. As duas usam estratégias diferentes para sobreviver no ambiente de trabalho: enquanto a primeira se recusa a usar sua aparência para obter vantagens, a curvilínea Joan transpira sensualidade e a usa em seu favor com direito a affair com o chefe, mas ambas acabam sofrendo e superando dificuldades devido à sua condição de “ser mulher” naquela época. Contestadoras à sua maneira,é interessante ver as duas lidando com as adversidades da época, como Joan convencendo seu médico a lhe dar um método de controle de natalidade e Peggy, numa discussão sobre direitos civis com seu então namorado, diz não achar sua situação muito diferente da dos negros já que ela também, por exemplo, é privada de circular em lugares destinados somente a homens brancos: “Preciso dizer, a maior parte das coisas que os negros não podem, eu também não posso. E ninguém parece se importar”. De certa maneira, Mad Men é o precursor de Masters of Sex em explorar o crescimento do feminismo nos anos 50 e 60.

    5- Parks and Recreation

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    Por motivos de Leslie Knope. Criada e estrelada pela brilhante Amy Poehler, a série é sobre uma funcionária pública que acredita em seus esforços e trabalho árduo para transformar sua cidade, apesar da burocracia do governo. Leslie é feminista, adepta do lema “fries before guys”, tem um monte de quadros de mulheres inspiradoras pendurados em seu escritório (especialmente mulheres na política) e suas ações são sempre baseadas na igualdade de gêneros. O feminismo de Leslie rende situações engraçadíssimas, especialmente quando ela é proibida de fazer algo por ser mulher. Ela nunca aceita este argumento e sempre busca maneiras de mostrar que é capaz e que inclusive pode ser até melhor que aqueles que a diminuíram pelo seu sexo. Além disso, a série tem o mérito de retratar uma mulher em posição de poder fugindo do estereótipo triste-amarga-solitária. Muitíssimo ao contrário: Leslie tem um grande coração, é otimista, generosa, divertida, vai pra balada e dá vexame (quem nunca?) e tem uma amizade sincera com outra personagem feminina que quebra o conceito de que “mulheres são invejosas/inimigas”. De um jeito engraçado e inteligente, Poehler confronta o tradicional papel de gênero e o modo como homens e mulheres são retratados na TV e no cinema. Se você é feminista deveria assistir. Se não é, também deveria ver porque é hilário.

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