Acumulei mais conhecimentos sobre ela do que matéria vista durante os anos de colégio. Talvez o ano que passamos juntos tenha me servido de laboratório pra ser uma pessoa melhor. Como aturar alguém, como respeitar a privacidade, como fazer feliz. Disciplinas elementares na convivência com outra pessoa. Diversas outras lições entraram na ementa, mas tudo acabava voltando para um único tópico: nós.
Cheguei à beira da repetência por diversas ocasiões e, em uma delas, só mesmo o conselho de classe de uma garrafa de álcool foi capaz de nos buscar de um torto caminho e nos colocar no rumo de novo. Fiz faculdade nas suas caras, que aos poucos se tornavam decifráveis. Emendei com um pós na sua boca, em que me demorei de propósito. Me tornei mestre nos seus sorrisos.
Nossos abraços não precisaram experiência prévia. Parece que nascemos sabendo como abraçar um ao outro.
Era como se tivéssemos sido destinados a nos encaixar. Antes e durante muitas dessas aulas eu acreditei no pensamento de que o amor nos faz não querer estar junto, mas dentro. Depois dela, entendi que por mais bonito que algumas situações possam parecer, é essa mesma coisa de querer estar dentro que sufoca o outro. Espaço, anotei. É preciso saber dar espaço para outros.
A minha falta de hipocrisia não me deixa dizer que nunca pensei no término do curso. Ainda assim, sempre disse pra mim mesmo que isso seria um problema pro futuro. O meu eu que estivesse lá saberia administrar a situação e se sairia bem sem dúvida. Mas que qualquer fim demorasse a chegar ou que se perdesse no caminho. Que vivêssemos um eterno ciclo, mas juntos.
Não houve formatura, apesar da data exata de conclusão. Não houve parabéns, mas o pesar por ter concluído tudo. E o que eu faria com tanta coisa sabida sobre ela? Não há meio de usar com outra. Eu sei o jeito dela, os gostos dela. Não quero começar tudo de novo. Me graduei no corpo dela e nem ao menos quero diploma.
Quero só continuar aprendendo a viver com ela.